‘Cortar bolsas do CNPq é aniquilar a pesquisa no Brasil’, disse professor da UFMG que pesquisa vacina contra Aedes aegypti

Conselho pode deixar de repassar dinheiro a partir do mês que vem. UFMG vem sofrendo cortes de verba do governo federal desde 2013.

Por Thais Pimentel, Do G1 Minas

Rodolfo Giunchetti - homem branco, de cabelo preto curto, usando luvas, óculos de grau e jaleco branco- manipulando instrumentos em um laboratório
Rodolfo Giunchetti coordena estudo de vacina contra Aedes aegypti. — Foto: Júlia Duarte/UFMG/Divulgação

“Eu estou me atendo a um fio de esperança, mas eu sou exceção”, disse o professor Rodolfo Giunchetti, coordenador da pesquisa que desenvolve uma vacina para combater o mosquito Aedes aegypti, sobre o risco de que as bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) fiquem sem pagamento no mês que vem.

A entidade ainda anunciou, no dia 15 de agosto, que suspendeu a assinatura de novos contratos para verbas de estudo e pesquisa.

“Para mim, é uma irresponsabilidade. Anos de trabalho jogados fora. O governo investe no aluno desde a graduação e depois dispensa esse conhecimento. Cortar bolsas do CNPq é aniquilar a pesquisa no Brasil”, disse o professor.

Para não parar a pesquisa, a equipe dele teve que buscar ajuda no Ministério da Saúde.

“Tivemos uma sinalização positiva, mas não há nada confirmado. Também estamos sob tensão. Mas nada comparado aos colegas que não têm nada além da CNPq. É um prejuízo imenso”, disse ele.

Histórico de cortes

A ameaça dos cortes nas bolsas do CNPq é mais um problema que a UFMG vem enfrentando. Ao longo dos anos, a universidade vem sofrendo com a diminuição da verba. Em 2014, houve redução de R$ 30 milhões no repasse dos recursos.

No ano seguinte, a universidade suspendeu temporariamente o pagamento de água e luz da instituição por causa da redução de 33% no repasse do orçamento previsto para aquele ano.

Em 2017, o congelamento de 44% do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) afetou a produção científica na universidade.

No ano passado, a pasta sofreu com redução no orçamento. Ela recebeu cerca de R$ 4,6 bilhões da União, sendo que há cinco anos, a verba era de R$ 9,4 bilhões.

“O número de pesquisas também diminui por causa dessa redução sistemática”, disse o professor.

gráfico que mostra o histórico de orientações concluídas pela UFMG
Numero de teses apresentadas na UFMG diminuiu ao longo dos anos. — Foto: UFMG/Divulgação

O número de orientações de pós-graduação na UFMG caiu de 14.111 em 2013 para 10.461 no ano passado. Até agosto de 2019, foram concluídas 3.153 teses.

“Estamos mais preocupados com os alunos agora. Eles vivem de bolsas de dedicação exclusiva. O pesquisador passa por um processo de formação. É um desrespeito”, falou o professor.

Aedes aegypti

As pesquisas coordenadas pela equipe do professor Giunchetti começaram há quatro anos. Os resultados indicam que a vacina pode induzir a produção de anticorpos que interferem no ciclo vital do mosquito, danificando seu sistema reprodutivo e até mesmo levando-o a morte.

Ela não protege contra as doenças, mas promete eliminar o vetor que transmite dengue, chikungunya, zika e febre amarela.

Dengue

O número de mortes por dengue triplicou no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados 414 óbitos nos primeiros seis meses de 2019. No mesmo período do ano passado, foram 129.

O boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde, que considera os casos entre 30 de dezembro e 22 de junho, aponta que o país teve, apenas neste ano, 1.234.527 de casos prováveis, ou seja, mais de um milhão de casos de dengue ainda não confirmados em laboratório. Neste mesmo período do ano passado eram pouco mais de 180 mil casos, o número é sete vezes maior.

Até agora, o estado mais afetado pela doença foi o Minas Gerais, com quase dois mil casos a cada 100 mil habitantes.

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