Dúvida – Por: Mônica Francisco

Li em uma matéria veiculada por uma revista que circula aos Domingos sobre pessoas que estão deixando o Rio e até o Brasil, por conta do alto custo de vida e da transformação de cidade maravilhosa, cartão-postal, para se tornar a cidade de quem pode pagar por ela.

Assim, me pergunto como vamos estar daqui a pouco, uns 10 anos, não mais, nesse ritmo frenético de gentrificação tão agressiva? Então, peço a vocês, leitores, que me auxiliem em minha busca por respostas, pois eu realmente não sei mais nada, eu sei que alguma coisa mudou.

O que fazer com os pobres no Brasil?

O que fazer se na sua grande maioria os pobres do Brasil são negros, mestiços e descendentes de vítimas do tráfico de pessoas escravizadas com o abono institucional que vigorou em nosso chão?

O que fazer como os andarilhos, pessoas com sofrimento mental, sem teto, desafortunados, crianças abandonadas em situação de rua, pedintes, viciados em craque e álcool e outras tantas categorias de desvalidos concidadãos?

O que fazer com os jovens que não ocupam mais os bancos escolares, porque nós não fazemos nada para tornar a educação capaz de mantê-los ali e alçá-los ao patamar de possibilidades que todo e toda jovem deveria ter?

O que fazer com os mais de 20 milhões de brasileiros segundo o IPEA que estão sem moradia?

O que fazer com os analfabetos funcionais, com os jovens negros que têm quase quatro vezes mais de chances de morrer por morte violenta do que um jovem branco, em um país que diz não tolerar o racismo, ou melhor, de ser um país miscigenado, como se isso abonasse qualquer pecado?

O que fazer com as mulheres que ainda são alvo de violência por parte de homens, quer se relacionem com eles ou simplesmente estejam em um mesmo meio de transporte, e com consentimento de 26% da população?

O que fazer com um sistema prisional em colapso, e com uma população quase monocromática?

O que fazer com a ausência de um bom sistema de saúde, educação, transporte e segurança?

O que fazer com os órfãos das Cláudias, dos Amarildosdos tantos e tantas que este espaço se faria, e o é insuficiente? Afinal, 10 mil mortes em 10 anos é de arrepiar, como o agravante de que segundo a OAB, são mais os desaparecidos da democracia dos que os da ditadura.

O que fazer do Brasil?

O que fazer de nós, que não podemos sair estrategicamente e voltar depois quando tudo melhorar, como os nossos irmãos da matéria citada no início deste artigo?

Alguém pode me tirar esta dúvida enquanto ainda estamos vivos e “livres”?

“A nossa luta é todo dia e toda hora. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”

*Representante da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e aluna da Licenciatura em Ciências Sociais pela UERJ.

Fonte: Jornal do Brasil

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