Enquanto Globo e Record ignoram, entrevista de Lula repercute no mundo inteiro

Ao mesmo tempo em que as duas maiores emissoras de TV brasileiras não mencionaram o fato político mais importante da semana, alguns dos principais veículos internacionais deram cobertura à entrevista do ex-presidente

Do Fórum

Ex-presidente Lula - homem idoso branco, vestindo terno cinza- sentado, falando com uma das mãos levantadas
O ex-presidente Lula fala pela primeira à imprensa, em entrevista exclusiva nesta sexta-feira, na sede da PF em Curitiba. (Foto: ISABELLA LANAVE)

As duas maiores emissoras de TV do Brasil, redes Globo e Record, jogaram no lixo a prática do bom jornalismo e, simplesmente, ignoraram a entrevista do ex-presidente Lula, concedida ao El País e à Folha de S.Paulo, nesta sexta-feira (26). A edição do Jornal Nacional, da Globo, também não citou o fato político mais importante da semana.

Em contrapartida, alguns dos principais veículos de comunicação do mundo deram cobertura ao fato. O The Guardian, jornal britânico, destacou a entrevista, mencionando a declaração de Lula de que o Brasil está sendo governado por um bando de malucos e que os “lacaios” dos EUA destruíram a reputação internacional do país. “Nunca vi um presidente saudar a bandeira americana. Nunca vi um presidente dizer que ama os Estados Unidos”, disse Lula, em trecho destacado pelo jornal.

Le Figaro, mais tradicional jornal da França, enfatizou a “obsessão” de Lula, a quem chama de ícone da esquerda, de provar sua inocência, ainda que custe sua liberdade. “Eu quero sair daqui com a cabeça erguida, como entrei: inocente. Muitas pessoas pensaram que eu teria que fugir, sair do Brasil ou me refugiar em uma embaixada. Mas eu decidi que o meu lugar era aqui. Posso ficar na prisão por cem anos, mas não vou trocar minha dignidade pela minha liberdade”, destacou o jornal.

Fox News, canal de notícias norte-americano, citando matéria da agência Associated Press, também mencionou as declarações de Lula no sentido de provar sua inocência das condenações que recebeu da Operação Lava Jato. “Estou obcecado em desmascarar o juiz Moro e aqueles que me sentenciaram. Quero expor a farsa montada no Departamento de Justiça dos Estados Unidos”.

TeleSur, emissora multi-estatal para a América ressaltou a briga jurídica que precisou ser travada para que a entrevista ocorresse. “O ex-mandatário fez suas declarações durante a entrevista que foi autorizada no último dia 18 de abril pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, José Antonio Dias Toffoli, após um processo legal para sua realização”.

Já a agência russa Sputnik destacou o que Lula citou sobre a diferença de tratamento da imprensa brasileira em relação a ele e Bolsonaro. “Imagina se os milicianos do Bolsonaro fossem amigos da minha família”, enfatizou o site.

A versão em espanhol do El País, um dos veículos autorizados a entrevistar o ex-presidente nesta sexta-feira (26), traduziu a reportagem de Florestan Fernandes Júnior. “Lula está preso, ele quer conversar e sabe que esta entrevista é uma oportunidade para fazê-lo depois de um ano silenciado pela prisão”, disse o jornal.

Autocrítica

Página/12, jornal argentino, mencionou as críticas do ex-presidente a Jair Bolsonaro. “Lula se referiu à elite brasileira e pediu a ela uma autocrítica: ‘Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece isso”’, disse Lula, em trecho da entrevista destacado pelo jornal.

Cubadebate, site cubano, enfatizou que o ex-presidente reafirmou sua inocência, dizendo-se “obsessivo” por provar a “farsa judicial” que o levou à cadeia. “Sei muito bem que lugar a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira”, ressaltou o site.

Com informações do Opera Mundi

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