Grupo da FE discute relações étnico-raciais na educação

Na escola, nosso primeiro ambiente de convivência pública, construímos relações que contribuem na formação de nossa auto-imagem, e adquirimos o conhecimento que fundamenta nossa visão de mundo. No Brasil, país historicamente formado por negros, brancos e indígenas, além da contribuição recente de imigrantes de outros países, diferentes culturas e realidades se encontram no espaço social representado pela escola, que deve, segundo a Lei 11645/08, incluir no currículo básico o estudo de história e cultura afro-brasileira e indígena. Para discutir as relações étnico-raciais inseridas na temática educacional, alunos de pós-graduação da Faculdade de Educação (FE) da USP criaram o Grupo de Estudos em Relações Étnico-Raciais e Educação Lélia Gonzalez (Gerere).

Os pós-graduandos, que pesquisam separadamente temas distintos como antropologia, políticas públicas, educação infantil, psicologia da educação, entre outros, têm em comum o tema da questão étnico-racial na educação. Juntos apresentaram à diretoria da FE a proposta de criação do grupo, que será coordenado por eles e supervisionado pela professora Roseli Fischmann com seu grupo de pesquisa Discriminação, Preconceito e Estigma.

Inicialmente, as reuniões serão quinzenais e abertas a quem quiser participar. Com o tempo, os pesquisadores pretendem agregar alunos de graduação e licenciatura, além de convidar professores de outras universidades para ministrar cursos de formação sobre o tema.

Thiago Molina, mestrando da FE, conta que o objetivo do grupo é ampliar a discussão, contribuindo para que o conteúdo de História da África seja incluído no currículo básico e que haja uma nova forma de ensinar, mais plural e ávida por outras visões da história. Além disso, busca incluir a temática no currículo da própria FE, destacando a importância da universidade encabeçar a discussão a respeito.

Ele explica que a escolha do currículo no ensino básico faz parte de uma política que privilegia uma forma de ver o mundo e esquece que existem outras, igualmente legítimas. Apesar da universalização do acesso ao ensino, não houve mudanças na prática. “Outras crianças foram incorporadas ao corpo escolar, sem que seu contexto cultural seja respeitado. A escola ainda está distante deste aluno”, conta.

O mestrando questiona o quanto uma criança perde ao não ter contato mais próximo com outras culturas na escola e, assim, descobrir formas diferentes de resolver problemas. “As respostas dos povos indígenas, africanos, europeus, brasileiros, imigrantes etc, são diferentes. Conhecer só uma narrativa e insistir nela é também perder possibilidades. E, assim, a sociedade como um todo fica empobrecida”, explica.
Pesquisas desenvolvidas na FE mostram que existe resistência por parte dos professores em modificar a maneira tradicional de ensinar. Além disso, muitos silenciam diante do preconceito em sala de aula. Thiago aponta que, por exemplo, quando um aluno chama o colega por algum termo pejorativo e preconceituoso é importante que o professor esteja apto a iniciar uma discussão a respeito, em vez de simplesmente repreender e esquecer o assunto.

De início, o grupo está sendo “incubado” pelo grupo coordenado pela professora Roseli Fischmann, que estuda minorias religiosas e étnicas, desenvolvimento humano, educação pela paz e a superação da discriminação. A professora escreveu o documento Pluralidade Cultural dos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, em vigor desde 1997 que, atendendo reivindicações dos movimentos populares, abriu portas para a implantação da lei sobre inserção da história e da cultura africana no currículo básico.

Ela destaca que todos os envolvidos têm teoria e prática integradas; muitos são professores da rede pública ou trabalham em outras instituições, além de estudar. O nome do grupo homenageia a antropóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Lélia Gonzalez. Pioneira nos cursos sobre cultura negra no Brasil, que teve sua pesquisa dedicada à temática do gênero e da etnia, e abriu espaço na academia também para discussões sobre a questão indígena.

 

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