“Absurdo é ver tanto preconceito.” “Não vou boicotar o Boticário.” “Uma coisa é não tolerar o pecado, outra é promover o ódio.”
por Ricardo Senra no BBC
As opiniões sobre o anúncio que mostra casais de lésbicas, gays e heterossexuais trocando presentes de Dia dos Namorados não vêm de ativistas LGBT, mas de evangélicos. Em mais 1.500 comentários enviados pelas redes sociais, os leitores da BBC Brasil ajudam a desconstruir generalizações que vêm cercando a polêmica – que chegou ao topo dos assuntos mais buscados por brasileiros no Google nesta terça-feira.
No YouTube, o vídeo da marca de perfumes tem mais de 2 milhões de visualizações e milhares de comentários inflamados a favor ou contra a campanha. Até o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) chegou a ser acionado durante a semana.
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Um dos estopins para a discórdia foi um vídeo, gravado pelo pastor Silas Malafaia, que “conclama” a população evangélica a boicotar a marca. “Vai vender perfume para gay”, provocou o religioso.
Do lado oposto, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) disse que o “ódio de fundamentalistas religiosos não descansa nem numa data em que a lei é, literalmente, o amor”.
Mas no meio do caminho estão pessoas como Jackson, Eliezer, Samuel, Cristiane, Stephanie, Henrique, Caroline e Aline.
Todos se apresentam como evangélicos ou cristãos e explicam de que maneira entenderam o anúncio e por que não se sentem representados pelo boicote à marca (leia os comentários completos no fim da reportagem).
Jackson Almeida diz que se emocionou vendo a propaganda. “Sou cristão e esse comercial ao invés de destruir e confundir minha família mostrou e expandiu nossa forma de ver e pensar sobre isso.”
Já Eliezer Santos sugere que a estratégia foi “bilhante” do ponto de vista de marketing. “Não sei se passou pela cabeça do pessoal do marketing a receptividade negativa que algumas classes, principalmente a Evangélica teria, motivada por lideranças equivocadas e preconceituosas. Se isso foi pensado, a estratégia foi brilhante, pois conseguiu transformar toda esta negatividade em algo positivo”.
A leitora Aline Santos, que se apresenta como cristã, afirma que “no Envangelho, Jesus andava com todos, sem exceção”.
“Uma coisa é você não tolerar o pecado. Outra é promover o ódio por conta de sua religiosidade e ignorância. Jesus é amor. E ficar debatendo ou criticando não é nem um pouco coisa de discípulo”, escreveu.
Henrique Martineli diz ter aprendido com a Bíblia a “a respeitar as diferenças, ao contrário de um certo grupo radical que se diz cristão e se coloca acima das outras pessoas”.
“Precisamos colocar pessoas acima das nossas crençasreligiosas e respeitar suas escolhas. Só assim cresceremos juntos em uma sociedade unida”, afirma.
O pastor evangélico Samuel de Lima disse entender a importância da liberdade de expressão, comentou que não vai boicotar a marca, mas pediu respeito a quem optar pelo boicote.
“Não vou boicotar a Boticário. Tendo dito isto, espero que aqueles que discordam do Silas Malafaia, também respeitem seu direito de fazer o boicote”, afirma. Ele completa: “Todos esses movimentos são importantes em uma democracia saudável.”
Também evangélica, Cristiane Oliveira considera o preconceito “absurdo”: “Sou evangélica e sei que isso é pecado…mas e daí? Quem somos nós para julgar? Não somos ninguém, porque isso cabe a Deus”, disse.
Já na opinião de Stephanie Ferreira, não faria sentido boicotar um anúncio com gays enquanto se questiona cenas de violência e “traições” na televisão.
“Mesmo sendo diferente do que eu fui criada e aceita, torna-se repudioso querer o mal e dizer que isso incentiva nossas crianças, sendo que muitos “pais e mães de família” não boicotam cenas de violência, traição ou algo que vá contra a moral dos mesmos”.
Caroline Carneiro diz ser a favor do amor. “Sou cristã e achei o comercial lindo! Sou a favor do amor, amor que me foi dado e ensinado pelo próprio Jesus.”