Projeto leva carimbós a alunos da rede pública

A Amazônia é quase uma entidade. Estende-se por vários estados do país e faz marcas fortes na cultura dessas regiões. Vindo do meio do mundo, Macapá, capital amapaense, o músico e compositor Márcio Montoril sabe bem o que é ser caboclo. Criado ao lado de um terreiro de umbanda, que misturava carimbó aos sons afro, e ouvindo música caribenha nas rádios, o rapaz até tentou escapar dos ritmos ribeirinhos. “Quando jovem, eu ouvia muito Beatles e Jovem Guarda, mas na hora de tocar, não teve jeito: eu sou caboclo do mato, com uma pitada de sofisticação urbana”, diz.

Destinado de berço ao ritmo regional, Márcio mudou-se para Belém para concluir o ensino médio e fazer faculdade. Era final da década de 1970 quando ele conheceu figuras como Nilson Chaves e Maca Maneschi, bebendo cerveja no Bar do Parque. Ainda que tocasse violão desde os 16 anos, foi nessa época, já depois dos 20, que percebeu que era a hora de montar um grupo e iniciar uma carreira profissional.

Surgiu então o Arraial do Labioso, que transita entre o regional, a música de baile e o pop. No som da banda há muito de Caribe, com suas salsas e merengues, e também o Nordeste, que está na sanfona do forró e da quadrilha, mas há principalmente o boi-bumbá e, claro, aquele que é o ritmo primeiro do Pará. “Carimbó não é influência. Carimbó está no sangue”, sentencia Márcio, que brinca quando perguntado sobre qual seria o estilo de sua música. “O que a gente toca? Uma festa de ritmos”, numa referência ao nome do primeiro CD da banda, lançado em 1999, ao lado dos músicos Mário Mouzinho, Ivan Cardoso e Edson Abreu, também criadores do grupo.

Além do Arraial, Márcio se desdobra em outros projetos. Um deles é o “Música e Cidadania”, elaborado com alunos da Escola Estadual Luis Nunes Direito, na Cidade Nova IV, em Ananindeua, onde o músico é professor de Educação Física. Márcio desenvolveu um calendário de aulas de música para os alunos do ensino fundamental e médio.

“Reunimos estudantes que já tinham noção musical e eles passaram a ensinar os iniciantes”, explica. O projeto já tem sete anos e coleciona bons frutos. Foram dois prêmios consecutivos no Festival Coepe, que reúne alunos de escolas públicas de todo o Estado.

“No ano passado, defendemos uma música que falava do meio ambiente, composição dos próprios alunos” Grupo levará oficina a bairros carentes

São cerca de 30 alunos atendidos anualmente. Jovens a partir de 12 anos que passam a ter acesso ao exercício musical, semente que só pode dar em boa coisa.

“O curso é facultativo, só participa quem quer. E como exigência, o aluno precisa manter boas notas nas outras disciplinas”, explica. “Uma filosofia de vida diferente se constrói, há um ganho social. Você direciona o aluno para a vida. Eles se tornam mais companheiros, mais motivados”, afirma.

A partir do grupo de música, foi formado também um grupo de teatro na escola. “Foi tão proveitoso que alguns alunos se formaram na escola e decidiram cursar universidade em artes cênicas. Isso nos dá o maior orgulho”, diz Márcio, que compôs o espetáculo “A Opereta do Boi” especialmente para o grupo. A peça já é encenada há cinco anos e levou os alunos para espaços como os teatros Margarida Schivassapa e Waldemar Henrique.

ORGULHO

Cerca de 20 alunos compõem o elenco de músicos e atores no teatro cantado que é a opereta que conta a história do boi-bumbá. O espetáculo acaba de ser contemplado no edital Pequenos Projetos, do Ministério da Educação e da Funarte.

“Foi muito gratificante. Eram mais de 25 mil projetos inscritos, e entre os 2.500 aprovados, estava o nosso”, comemora. “Vamos levar oficina de música e teatro ao município de Curuçá e também fazer apresentações gratuitas em Belém em comunidades carentes”, antecipa Márcio, que além de professor de educação, de música, teatro, compositor e cantor, também é pai de um casal e já fica todo orgulhoso com o talento da filha mais velha. “Ela já toca violão e eu ando compondo uns rocks para nos apresentarmos juntos”.

LABIOSO

O segundo álbum saiu em 2007 e homenageou um dos mestres paraenses, Lucindo, carimbozeiro de marca maior nascido no sudeste paraense, autor de mais de 300 composições. “Quando reunimos nossas letras, percebemos que elas falavam do Salgado, região de Marudá e Marapanim, terra do mestre”, diz Márcio.

Decidir o nome do disco foi fácil: “Dançando no terreiro de Lucindo” bebe direto da tradição do carimbó do Salgado, mas vai além. O disco mostrou o processador rítmico que é o Arraial: carimbó na levada do maracatu, quadrilha com a guitarra distorcida do rock e lundu misturado ao pop. Os nomes das canções do repertório indicam exatamente o que os ouvidos devem esperar. ‘Maracatimbó’, ‘Lundu Eletrônico’ e ‘Canto Caboclo’.

O terceiro CD está em fase de produção. “Arraial de nós” será lançado até o começo do ano que vem, segundo previsão da banda, que atualmente é formada por Márcio Montoril (voz), Mário (violão) e Lúcio Mouzinho (voz), Bruno Benitez (guitarra), Sagica (bateria), Fernando (baixo), Alcides (percussão), Claudinei e Daniel Fabiano (tambores) e Bruno Habib (teclados). (Diário do Pará)

 

 

Fonte: Diário do Pará

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