“Preciosa” garantiu a Lee Daniels segunda indicação na história a um diretor negro

 

A disputa do Oscar 2010 parece polarizada entre “Avatar” e “Guerra ao Terror”, até pela guerra conjugal de marido (James Cameron) e ex-mulher (Kathryn Bigelow), mas a categoria de melhor diretor desta edição guarda outra novidade importante. É a segunda vez na história (depois de John Singleton, em 1991) em que um cineasta negro é indicado ao prêmio. Trata-se de Lee Daniels, 50 anos, também produtor do aterrorizante drama “Preciosa”, um dos dez concorrentes da estatueta de melhor filme, que estreia nesta sexta-feira (12).

Daniels tem uma história de vida curiosa e engajada. Nascido na Filadélfia, sofreu desde cedo o preconceito do pai, policial, por sua homossexualidade. “Ele me batia. Sei que me amava, mas achava que um cara negro e gay não ia sobreviver”, disse o diretor ao The New York Times. “Meu pai podia ter ido para a prisão pelo que me fez, mas ao mesmo tempo me tornou durão. Eu nunca desisto. Nunca mesmo.”

 

Decidido a trabalhar com cinema, se mudou para Los Angeles ainda jovem, na década de 1980. Sem perspectivas na área e percebendo um mercado emergente, Daniels usou a herança que recebeu de um namorado para abrir uma empresa de enfermagem em Hollywood, com atendimento personalizado, em casa. O negócio prosperou e com 21 anos já era milionário.

 

O tino empresarial apurado fez Daniels enveredar pelo ramo de casting de atores. Não demorou para ele acumular contatos e em poucohalle_berry_cultura tempo estava trabalhando ao lado de Prince em “Purple Rain” e “Sob O Luar da Primavera”, além de ter sob sua tutela a carreira de gente como Nastassja Kinski e Morgan Freeman.

 

Influente, abriu sua própria produtora, a Lee Daniels Entertainment, disposto a reverter a imagem estereotipada dos negros no cinema. “Os estúdios só abrem a porta se você tiver um filme de gueto ou uma daquelas comédias idiotas”, criticou. Bem longe disso, “A Última Ceia” (2001), estreia da empresa, trata de racismo e de cara fez história: garantiu a Halle Berry o primeiro Oscar de melhor atriz a uma mulher negra.

 

O tom continuou sombrio com o elogiado “O Lenhador” (2004), no qual Kevin Bacon interpreta um pedófilo, e daí Daniels resolveu pular para atrás das câmeras, sem, no entanto, deixar a produção de lado. O primeiro compromisso foi uma campanha encomendada por Bill Clinton para estimular o voto de negros à Presidência, estrelada pelo rapper LL Cool J e pela cantora Alicia Keys. Pouco depois, assumiu seu primeiro longa-metragem.

 

O resultado foi o thriller “Matadores de Aluguel” (2006), que, apesar do elenco conhecido – Cuba Gooding Jr., Helen Mirren, Joseph Gordon-Levitt – não chamou atenção, talvez pela história bizarra: uma assassina (Mirren) descobre que está com câncer e decide assumir um último trabalho ao lado do enteado e amante (Gooding Jr). O longa serviu para unir pela primeira vez Daniels e a apresentadora Mo’Nique, cujo personagem já dava uma pista do que viria: seu nome era Preciosa.

 

O tino empresarial apurado fez Daniels enveredar pelo ramo de casting de atores. Não demorou para ele acumular contatos e em pouco tempo estava trabalhando ao lado de Prince em “Purple Rain” e “Sob O Luar da Primavera”, além de ter sob sua tutela a carreira de gente como Nastassja Kinski e Morgan Freeman.

 

Influente, abriu sua própria produtora, a Lee Daniels Entertainment, disposto a reverter a imagem estereotipada dos negros no cinema. “Os estúdios só abrem a porta se você tiver um filme de gueto ou uma daquelas comédias idiotas”, criticou. Bem longe disso, “A Última Ceia” (2001), estreia da empresa, trata de racismo e de cara fez história: garantiu a Halle Berry o primeiro Oscar de melhor atriz a uma mulher negra.

 

O tom continuou sombrio com o elogiado “O Lenhador” (2004), no qual Kevin Bacon interpreta um pedófilo, e daí Daniels resolveu pular para atrás das câmeras, sem, no entanto, deixar a produção de lado. O primeiro compromisso foi uma campanha encomendada por Bill Clinton para estimular o voto de negros à Presidência, estrelada pelo rapper LL Cool J e pela cantora Alicia Keys. Pouco depois, assumiu seu primeiro longa-metragem.

 

O resultado foi o thriller “Matadores de Aluguel” (2006), que, apesar do elenco conhecido – Cuba Gooding Jr., Helen Mirren, Joseph Gordon-Levitt – não chamou atenção, talvez pela história bizarra: uma assassina (Mirren) descobre que está com câncer e decide assumir um último trabalho ao lado do enteado e amante (Gooding Jr). O longa serviu para unir pela primeira vez Daniels e a apresentadora Mo’Nique, cujo personagem já dava uma pista do que viria: seu nome era Preciosa.

lee_daniels_mariah_carey_lenny_kravitz_cultura_299_418O projeto era a adaptação para os cinemas do best-seller “Push”, versão ficcionalizada da experiência da performer e poetisa Sapphire como educadora nos bairros pobres de Nova York. A história da adolescente obesa, grávida pela segunda vez do pai e abusada pela mãe, apesar de cruel, tinha apelo universal e lembrava a infância conturbada do diretor: um de seus irmãos passou anos preso por tráfico, sua irmã era gorda e viciada (“ela vivia com uma asa de galinha numa mão e um cachimbo de crack na outra”) e Daniels admite ter feito sua cota de pequenos furtos.

 

Como nenhum estúdio queria investir num filme sem apelo popular, a produção de US$ 11 milhões ocorreu aos trancos e barrancos e foi interrompida duas vezes por falta de dinheiro. Uma das atrizes de “Preciosa”, Mariah Carey se apresentou em eventos na casa de Daniels para angariar fundos. Escalar cantores, aliás, é uma mania do diretor em seus projetos: já passaram por suas mãos Sean “Puff Daddy” Combs, Mos Def, Macy Gray e Lenny Kravitz (o roqueiro faz uma ponta em “Preciosa” e deve protagonizar o próximo filme de Daniels, “Iced”).

 

A redenção de “Preciosa” começou no Festival de Sundance, no início do ano passado, do qual saiu vencedor. Ainda sem distribuição garantida, o filme ganhou dois aliados de peso – a apresentadora Oprah Winfrey e o ator Tyler Perry (“Diário de Uma Louca”), dois milionários do entretenimento negro nos EUA. A dupla entrou no projeto como produtores executivos e logo depois o longa-metragem foi comprado pela Lionsgate.

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A partir daí, “Preciosa” caiu nas graças da crítica e seguiu uma carreira badalada em festivais (inclusive Cannes) e premiações de melhores de 2009. É pouco provável que o filme ganhe outro Oscar que não seja o de atriz coadjuvante para Mo’Nique. A janela para Daniels, porém, deve permanecer aberta por muito, muito tempo. Você ainda vai ouvir falar dele.

 

 

 

Fonte: Ultimo Segundo

 

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