Qual é a sua

Por Fernanda Pompeu

Na metade dos anos 1960, no grupo escolar em que eu estudava, havia um garoto, o Ernani, que era malvisto. Motivo: seus pais eram desquitados. Hoje soa ridículo que uma criança sofra constrangimento pela razão de seus pais estarem separados.

Com imensa satisfação, a gente percebe que no tema família a fila não apenas andou. Ela correu! Se antes filhas e filhos de mães solteiras sentiam uma certa timidez em declarar tal condição, agora ostentam orgulho de suas mães guerreiras.

Aliás as mulheres estão na cabeça dessa revolução familiar. A Pnad (Pesquisa Nacional de Amostragem Familiar), que teve como base o ano de 2011, confirma que 37,4% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres. Há 16 anos, a porcentagem era de 20,81%.

Mas quem traz a maior novidade são as famílias homoafetivas. Tradução: famílias chefiadas por duas mulheres, ou por dois homens. Ou ainda tendo como parceiro um transexual. Sendo que alguns desses casais já conseguiram adotar crianças ou adolescentes.

Há também uma dança de papéis. Avós são mães. Avôs são pais. Mães são mães e pais. Alguns homens são pais e mães. Irmãs e irmãos são mães e pais de irmãs e irmãos menores. Tio, tia, prima, primo, vizinha. E até filhos e filhas viram pais e mães dos pais idosos.

É certo que a existência de diferentes modelos familiares nada tem de recente. Sempre existiram combinações variadas de afeto e cuidado. Filhos como o mesmo sangue, filhos com sangue outro. Casais com filhos, casais sem filhos. Casais com a mesma cor, casais com cores diferentes. Gente casada na igreja, gente casada no terreiro.

O que está fazendo a fila voar é a aceitação de que família vai muito além do modelito das propagandas de margarina: o homem, a mulher, o casal de filhos e o cachorro. O reconhecimento de que outros tipos de arranjo são legítimos e que a Justiça e a sociedade precisam incluí-los.
Isto é: reconhecer que todas as formas de família têm direitos iguais. Elas merecem benefícios previdenciários, trabalhistas, de herança. E, muito importante, elas têm direito ao respeito e à visibilidade. Se o Ernani estiver lendo isso, tenho certeza, está sorrindo.

 

 

Fonte: Yahoo

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