Para alunos e professores, avaliação perderá “legitimidade”, já que nem todos os estudantes farão a prova
por Cida de Oliveira, da RBA
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo anunciou hoje (23) a decisão de cancelar a aplicação das provas do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar de São Paulo (Saresp) nas escolas ocupadas. O exame, que mede o nível de aprendizado dos alunos, será aplicado amanhã e quarta-feira.
Participam da avaliação estudantes do 3º, 5º, 7º e 9º anos do ensino fundamental e da 3ª série do médio. A previsão da secretaria é que 1,2 milhão de alunos sejam avaliados neste ano. As notas obtidas compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp) e servem como parâmetro ao cálculo do bônus de professores e funcionários.
“O governo tenta dessa forma dar legitimidade ao Saresp, mas não deve funcionar. Com as escolas ocupadas fora da avaliação e com o boicote de outros estudantes, o exame deixa de ser legítimo”, diz o professor de Matemática Luciano Delgado, de Guarulhos.
Estudantes, porém, prometem boicotar o exame. Entre eles, os que ocupam as escolas estaduais Carlos Gomes e Francisco Glicério, na região central de Campinas. A mobilização, por meio das redes sociais com alunos de todas as escolas, pretende reforçar a onda de protestos contra a reorganização na rede estadual prevista para ser implementada a partir do ano que vem.
Aluna da Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros (zona oeste de capital), a segunda a ser ocupada, a estudante Karina, que preferiu não revelar o sobrenome, entende que a avaliação é importante para muitos alunos, especialmente do terceiro ano do ensino médio, assim como as notas do quarto bimestre.
“Muitos alunos acham que não é certo esse cancelamento e que a prova deveria ser aplicada num outro dia e em outro local. Porém, é necessário algum sacrifício para conseguirmos o que queremos. Está difícil, porque depois de um bom tempo de ocupação, parece que não estão dando a devida atenção. Mesmo assim, as ocupações continuam cada vez mais”, diz a estudante.
Segundo a Secretaria da Educação, os aspectos relacionados ao pagamento do bônus por resultado, que tem no Saresp elemento central para fins de cálculo, serão estudados do ponto de vista legal e comunicados posteriormente.
Conforme destacou o secretário da Educação, Herman Voorwald, em nota divulgada no site da secretaria, a pasta mantém “aberto canal de diálogo” com os estudantes e protocolou, no Tribunal de Justiça, propostas de negociação para desocupação das escolas, mas mais uma vez não obteve acordo. Mesmo assim, o canal para diálogo mantém-se aberto.