Selo da diversidade e o Papai Noel do Racismo

por:Walter Altino

Em Salvador, a política do Selo da diversidade que vem sendo praticada, ao invés de ser um instrumento de inclusão dos negros nos espaços do mercado de trabalho, em locais historicamente bloqueado, tais como os Shoppings Center, corre seriamente o risco de virar  apenas mas uma forma de legitimar essas instituições, que continuam  praticando o racismo. Contudo agora com a blindagem de Selo da Diversidade.

 

Isso porque: primeiro,  a metodologia adotada do Selo já da margem a manipulação, pois ao considerar como responsabilidade para aplicação da política apenas o condomínio e exclui  da mesma as lojas que compõem os Shoppings. Segundo, essa conferência do Selo não se baseia em critérios objetivos de pesquisa, que poderiam ser realizadas junto com instituições acadêmicas como UFBA ou UNEB, entre outras. Assim, o Selo é conferido de forma aleatória sem objetividade que comprove que aquelas instituições, realmente estão aplicando uma política de diversidade. Por fim, como se não bastasse isso, não há nenhuma espécie de fiscalização e controle por parte do poder público, para verificar se as instituições que obtiveram o selo mediante apresentação de um plano de trabalho, estão realmente cumprindo o seu compromisso firmado.

 

Verificamos como essa ausência de fiscalização e critérios objetivos de seleção pode ser nefasta, como é o caso do shopping Barra. Qualquer um que se disponha a andar pelo shopping constata visivelmente a baixa freqüência de pessoa negras nas lojas, denominadas de grife. O exemplo, mais claro de que a diversidade não é aplicada é o Presépio de Natal Barra. Existe um Papai Noel e varias garotas que foram contratadas pelo condomínio do shopping, contudo todas brancas de perfil europeu, causando constrangimento e afronta a maioria populacional desta cidade, que é negra. Onde está a política da diversidade? Não é aquela área de responsabilidade do condomínio do shopping?  Onde está o poder publico que não fiscaliza?

 

Como se não bastasse isso, o novo gestor da Secretaria de Reparação, de forma atropelada e corrida quer conferir de novo o Selo da diversidade a esse Shopping e outros, tais como shopping Iguatemi, dentre outras empresas, sem mesmo o comitê gestor do selo ter tido quórum para aprovação de qualquer projeto.

 

O que fica nítido com isso é que a política do Selo virou uma moeda de troca nas mãos de políticos oportunistas. Estes para fazerem média com a camada empresarial, confere o Selo como um presente que blinda estas empresas  contra as acusações e manifestações e ações judiciais que o movimento negro tem historicamente movido contra a prática racista e segregacionista dessas instituições.

 

Assim, verificamos as novas contradições decorrentes da institucionalização do movimento negro no poder de Estado. Se de um lado  verificamos que a ocupação de espaço pela criação dessas secretarias tais como : SEPPIR , SEPROMI , SEMUR (Secretaria de Reparação do Município de Salvador); o que pode propiciar a legitimação de nossas demandas históricas. Por outro lado, essas intuições, a depender do governo e do gestor, podem desempenhar o papel contrário; ou seja, de cooptação de vários setores clientelistas do movimento para legitimação de políticas que caminham na contramão da luta histórica contra a desigualdade. Estas políticas se caracterizam por seu caráter de conciliação e amortecimento dos conflitos de raça e classe. Verificamos isso, tanto na panacéia do Estatuto da Igualdade Racial, que fora feito um acordo entre o governo e a oposição para retirar as demandas conflituosas, tais como cotas e reconhecimento de Quilombo, com o aval da SEPPIR. Assim também  não é diferente a política do Selo da diversidade a ser aplicada pelo SEMUR, todas são políticas que não resolvem, mas buscam mascarar o problema  e dar uma impressão de que  as desigualdades estão sendo combatidas e ainda com dividendos eleitorais e até quem sabe clientelistas.

 

Walter Altino:  Mestre em Ciências Sociais; Coordenador do Atitude Quilombola.

Liliam Aquino: Mestra em Antropologia; Membro do Comitê do Selo da Diversidade e do Conselho Municipal da Comunidade Negra.

Wilson Santos: Bacharéu em direito e  Membro do Disque-Racismo.

Suzete Luz: Bacharel em Filosofia; Coordenadora do Omi Odé; membro do Conselho Municipal da Comunidade Negra.

Nemias Pereira de Souza: Professor; diretor do SINDPOC; membro do Atitude Quilombola.

Consuelo Gonsalves : Mestra em Planejamento Urbano (UFBA) E Filiada ao MNU.

Fonte: Discriminação Racial

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