Filme francês que debocha de clichês racistas bate recorde de bilheteria

 

Cíntia Cardoso

 

O roteiro é simples. Um casal francês conservador e algo preconceituoso tem quatro filhas. E, na hora do casamento, todas se casam com homens de origem estrangeira. O filme, que poderia ser apenas mais uma comédia engraçadinha, porém, seduziu o público francês e bate recordes de bilheteria no país.
 

Após três semanas em cartaz, a comédia « Qu’est-ce qu’on a fait au Bon Dieu? » (que mal fizemos a Deus, em uma tradução livre) já levou quase 5 milhões de pessoas aos cinemas na França. No final de semana passado, o filme ficou em 8° lugar na lista do Rentrak, um ranking mundial que classifica as maiores receitas de vendas de ingresso. No total, as bilheterias francesas no último sábado e domingo arrecadaram US$ 11 milhões, o que coloca a comédia do diretor Philippe de Chauveron atrás apenas das grandes produções de Hollywood como “Divergent”.

Com o número cada vez maior de espectadores, o filme já é comparável ao “Fabuloso Destino de Amélie Poulain” e “Intocáveis” que também ganharam destaque no exterior.

 

Críticas

Para os críticos de cinema, o sucesso dessa comédia se deve, principalmente, pela propaganda ‘boca a boca’ e pelo lançamento oportuno que coincidiu com as férias de Páscoa do calendário francês.

Mas, se o público se mostra entusiasmado com a história da família Verneuil e suas quatro filhas que escolheram um judeu, um árabe, um africano e um chinês para se casarem, a crítica se mostra menos receptiva.

Para o jornal Le Monde, « Por trás da mensagem de tolerância que o filme pretende passar (…), existe alguma coisa mais ambígua, algo que é engraçado, mas que, de alguma maneira, banaliza talvez não o racismo, mas as piadas de cunho racista”, escreve Franck Nouchi. Para a revista Télérama, que é especializada em cinema e televisão, o filme “explora os clichês que queria denunciar”.

Retorno de Christian Clavier

Já a seção de cinema da revista Nouvel Observateur elogia a produção. A publicação diz que o roteiro é “bem amarrado” e com uma “grande riqueza de personagens” e de “variações rítmicas”. A atuação do ator Christian Clavier é considerada “impagável” na representação da “velha França mesquinha e amarga”.

A comédia marca, aliás, um retorno triunfal de Clavier, 62. Extremamente popular na França, o ator amargou uma série de fracassos nas telas nos últimos anos. Muitos atribuem essa má fase do ator à sua amizade com o ex-presidente Nicolas Sarkozy.

Críticas à parte, o sucesso também pode refletir um fenômeno de certa identificação do público francês com as peripécias familiares encenadas na comédia. No país, segundo estatísticas oficiais, cerca de 11% dos casamentos têm um dos cônjuges de origem estrangeira. 

 

 

 

 

Fonte: RFI

 

 

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