Gestor, quantos negros existem na sua equipe?

Um dia me disseram: não vemos cor aqui dentro, nós vemos gente!

Por Gabriela Moura, da Medium 

1) Pô, que bom, achei que viam pedras. Se vêem gente já é um bom começo.
2) Piadas à parte, quando você afirma que dentro do seu espaço você não vê cor, apenas “gente”, mas na sua comunicação externa você faz questão de demonstrar uma escolha extraordinária (ou seja, fora do seu casting “comum”) de negros, usa gírias “da moda” para agregar valor a um determinado nome, e reafirma frequentemente o amor à diversidade, o nome disso é oportunismo.

O que alguns levam como prática comum, afinal vem da ideia de “aproveitar uma oportunidade”, mas tira toda a verdade de colocar em uma marca um real sentido de inclusão.

“Não vemos cor”, mas deviam, em um país com 53% de negros, se no seu espaço de convívio existem DOIS e isso é exaltado como uma qualidade tua, “algo de errado não está certo”.

Pra mudar uma realidade não basta ceder por seis meses um espaço para pessoas negras ou qualquer outro grupo historicamente subjugado.

Neste ponto a publicidade, por si só, é falha e defasada, e por isso a comunicação integrada pode ser uma rica ferramenta pra transformar um lugar bom em marketing em um lugar bom em COMUNICAÇÃO. Comunicação é diálogo e constante interação, não apenas o momentâneo esforço de auto-promoção.

Foto RAWPIXEL.COM

Ver diferenças não é errado. Essa ideia de que somos todos iguais foi derivada — dentre outras movimentações — de políticas higienistas de séculos atrás (mais precisamente o momento pós-abolição), e acaba eximindo uma pessoa com poder de sua responsabilidade sobre “subalternos”. A ideia da igualdade dilui a necessidade (urgente, diga-se de passagem) de equidade, que é olhar pra sociedade com responsabilidade, sabendo que não somos iguais por muitos motivos, alguns bem complexos, outros muito atrelados ao nosso dia-a-dia, e é nesse sentido que precisamos entender que, ainda que não seja simples como enviar um e-mail marketing querendo convencer alguém da sua visão “globalizada”, a tecnologia e a comunicação podem ser incríveis na construção de um ambiente diversificado DE VERDADE.

Mas pra isso, a gente tem que entender que pode ver cor, sim. Faz parte das nossas muitas subjetividades.
Pode ver cor, pode ver gênero, pode ver deficiência, pode ver orientação sexual.

O que não pode é usar isso só quando convém e esquecer que essas pessoas são humanas, têm desejos de consumidor, necessidades de trabalhador, anseios de estudante, e por aí vai.
O que não pode é desrespeitar essas subjetividades achando que não são nada.
O que não pode é discriminar, como sutilmente é feito quando queremos nos eximir do aprofundamento soltando um “não vejo cor, somos todos iguais”.

Para finalizar, deixo aqui um conteúdo produzido pelo Relações Públicas e idealizador da ONG Casa 1, Iran Giusti:

“Sabe, passei muito tempo vendo a imagem da equipe da agência de publicidade F/Nazca e pensei: os caras realmente não conseguem enxergar o óbvio. Postada no dia 5 de dezembro, a foto celebra o título de agência com os clientes mais satisfeitos do mercado brasileiro. A grande equipe retratada não traz, aparentemente, nenhum negro entre a centenas de funcionários e isso é um retrato bastante fiel das agências do país.

Para quem não sabe, a F/Nazca é uma das maiores agências de publicidade do Brasil e cuida de contas de empresas gigantescas como Ambev (Skol e Guaraná Antártica) e Sadia. Entre prêmios e campanhas de grande alcance não há como se negar a importância e qualidade da agência, porem diante da imagem é difícil defender.

Agora, porque ninguém fala sobre isso? Simples, não há espaço para falar sobre isso. Quando se trabalha com publicidade o mercado é muito restrito, e eu mesmo, assinando esse texto, corro sérios riscos de nunca mais conseguir fazer trabalhos com a agência, algo que já fiz algumas vezes.

Temos um medo constante de criticar, interna ou publicamente os nossos locais de trabalho e com isso seguimos coniventes com um sistema completamente racista e machista. Não é possível afirmar com certeza, mas posso dizer que há uma grande chance da maioria das mulheres da imagem serem da área comercial ou de atendimento. Sim, ainda existem cargos majoritariamente masculinos e femininos dentro das agências e no caso delas o foco são as funções onde é preciso ser “bela, recatada e do lar”.

O recente caso da Alezzia Móveis é mais um dos muitos casos onde o machismo, sexismos e o racismo impera na publicidade e quando olhamos para a foto da F/Nazca conseguimos entender um pouco mais o porquê.”

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