Fome aumenta pela primeira vez em quase 15 anos

Os conflitos e impactos climáticos revertem os tímidos recuos registrados desde 2003.

Na América do Sul, após anos de queda, os índices de subnutrição voltaram a crescer há dois anos

Por CARLOS LAORDEN, do El Pais 

Mulher arrasta saco de comida jogado do alto pelo Programa Mundial de Alimentos no Sudão do Sul ©FAO ALBERT GONZALEZ FARRAN

Mais de 815 milhões de pessoas. Cerca de quatro vezes a população do Brasil. Quase tantos quanto os habitantes da União Europeia e Estados Unidos juntos. Toda essa gente vai dormir todo dia sem ter comido as calorias mínimas para suas atividades diárias. Mas o número alto, calculado pelas Nações Unidas e publicado nesta sexta-feira, dia 15 de setembro, não é novidade: o número de famintos oficiaisoscila entre os novecentos e tantos e os setecentos e muitos desde o início do século. A notícia é que, pela primeira vez desde 2003, a fome volta a aumentar.

Esta alta em relação aos quase 777 milhões de subalimentados calculados em 2015 não foi uma surpresa absoluta: havia sinais de sobra para prevê-la. A fome reapareceu este ano no Sudão do Sul e há outros três países (Iêmen, Somália e Nigéria) perto de cair em suas garras. Nos últimos anos, estouraram guerras e enfrentamentos que se ampliam e se agravam (de fato, 6 em cada 10 pessoas com fome vivem em países em conflito). E também há regiões muito dependentes da agricultura que estão há três ou mais temporadas sofrendo secas, inundações e outros impactos climáticos. Esses são, exatamente, os fatores que explicam a alta, segundo o relatório apresentado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura) e outras quatro agências da ONU em Roma.

Se há um ano 10,6% da humanidade passava fome, hoje são 11%. “São muitas más notícias”, lamenta Kostas Stamulis, diretor geral adjunto da FAO, a agência que faz os cálculos anuais do número de pessoas “subalimentadas”, ou que não consomem o número de calorias mínimo para suas necessidades vitais. “Por isso esperamos que pelo menos sirvam para fazer disparar o alarme e que os países ouçam”, reflete Stamulis.

 

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