Haiti – Mais forte que o terremoto é o racismo!

Os eventos trágicos que se abateram sobre o Haiti nos ultimos dias fizeram aflorar o racismo que permeia sobre aquele país.

Marcio Alexandre M. Gualberto

O pastor Pat Robertson, verdadeiro ícone da direita pentecostal americana, afirmou que o Haiti sofre uma maldição advinda por pactos feitos com o Diabo à época da sua luta pela independência. Já o Cônsul do pais no Brasil foi mais longe. Além de afirmar que “a desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido”, ele ainda afirmou que “de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo… O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f…”, completou o cônsul.

 

Todas as religiões do mundo têm o mesmo objetivo, religar o ser humano ao divino. Todas partem sempre da mesma premissa, de que a humanidade precisa reatar seus laços com a divindade, dê-se a ela o nome que se der.

 

Em nome das religiões crimes bárbaros foram cometidos ao longo da história humana. Ninguém matou mais gente na história do que o cristianismo e, mesmo assim, a premissa básica da doutrina cristã é o amor ao próximo. Ou seja, em nome do amor milhares foram condenados à fogueira da inquisição, milhares foram presos e condenados por simplesmente questionar um ou outro aspecto da fé cristã.

 

Essencialmente as três maiores religiões monoteístas partem do mesmo princípio de que o homem pecou contra Deus e precisa se redimir diante Dele. Assim, por mais contraditório que possa ser, o Deus que tudo sabe e tudo vê cria o homem e a primeira coisa que o homem faz é voltar-se contra Deus. Então o resto da vida do homem é voltada para buscar essa redenção e esta redenção se dá pelo sacrifício, seja o sacrifício de animais, a oferta de alimentos, ou o sublime sacrifício humano feito pelo Cristo na cruz. Ou seja, de um primitivismo atroz.

 

Mesmo assim, estabelece-se como regra que as religiões tribais africanas é que são primitivas. Ou seja, quando se acredita que o sacrifício de um homem pode redimir a humanidade, é civilizado, mas quando se acredita nas forças da natureza, nas energias existentes e a elas se dão nomes e formas, aí é primitivismo, ai é tribalismo.

 

A maior tragédia que se abateu sobre o Haiti foi o racismo. Desde o momento em que aqueles escravos se rebelaram e conseguiram se rebelar contra o jugo da França um acordo tácito foi feito para isolar o país e não possibilitar nenhum tipo de ação que viesse a favorecê-lo. O Haiti que surgiu como uma nação agrícola e com relativa prosperidade foi se empobrecendo e ficando a cada dia refém de grupos que ao fim e ao cabo sempre serviram de massa de manobra para aqueles que nunca aceitaram uma nação negra no coração das Américas.

 

A tragédia do Haiti neste momento poderá, paradoxalmente, ser o momento de reconstrução do país. Poderá ser o momento em que a humanidade perceba que a punição não escrita e não acordada objetivamente sobre o Haiti está na hora de ser suspensa. O Haiti precisa ser reconstruído e isso só será feito se a solidariedade internacional perceber que o racismo não pode balizar suas ações.

 

Não existem grupos étnicos superiores uns sobre outros. O que existem são oportunidades históricas diferentes. O plano Marshall reconstruiu a Europa no pós II Guerra, até hoje os EUA estão reconstruindo Nova Orleans depois do furacão Catrina. É hora de se criar um plano internacional que reconstrua o Haiti, que vá além da Minustah, que vá muito além da questão da segurança. Mas que finque novas bases econômicas, educacionais, físicas e estruturais no país.

 

Cada passo dado para recuperar o Haiti será uma martelada na cabeça do racismo, será a prova real e concreta de que a humanidade vem melhorando sua visão com relação ao outro e ao diferente. Somente assim veremos vozes como as de Pat Robertson e do triste cônsul se tornarem vozes dissonantes, ignorantes e atrasadas.

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Fonte: Palavra Sinistra

 

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