Herrar é umano

Por: Fernanda Pompeu

O título deste post é uma frase-poema do curitibano Paulo Leminski (1944-1989). Gosto dela porque brincalhona, numa só tacada de corpo e alma, diz tudo. Alguém mais sisudo poderá objetar: “Acertar também é humano”.

No Manifesto da Poesia Pau-Brasil, o paulistano Oswald de Andrade (1890-1954) enaltece “a contribuição milionária de todos os erros”. Nesse caso, os erros de português que nos ajudariam a recriar uma língua mais moderna, mais brasileira.

Ao frigir do omelete, errar é chato! Ninguém gosta. Se pudéssemos teríamos uma vida só de acertos. Acertar na prova, acertar no namoro, acertar no casamento, acertar no emprego, acertar na aposentadoria, acertar na loteria.

Mas umanos, sempre herramos. Então, a pergunta é como tirar partido dos erros nossos de cada dia. Minha professora do grupo escolar responderia: “Não errando de novo”. Puxa, quem de nós não cometeu duas, quatro, sete vezes o mesmo erro?

Acho que o negócio é não fugir da realidade do erro. A grande jogada é aprender a errar menos. Melhor ainda, aprender a fazer amizade com o erro. Olhar bem na cara dele e entender por que ele acontece, ou por que deixamos que ele aconteça.

Pois tem erro do sistema e tem erro da gente. Tem erro do capitalismo e tem erro do socialismo. Tem erro do pai e tem erro da filha. Tem erro de amor, tem erro de desamor, tem erro sem querer, tem erro proposital. Tem erro bobo, tem erro fatal.

Também podemos colecionar elogios ao erro. Por exemplo, a coragem de errar. Quem expõe uma ideia, um caminho, um novo produto, um novo serviço corre muito mais risco de errar do que aquele que fica na moita, de molinho na gaveta.

Quem tem ambição de crescer, melhorar, transformar está mais exposto ao erro, porque vai fazer mais tentativas, mais autoexigências. Vai trilhar mais caminhos, vai se arriscar em atalhos. Vai tropeçar. Vai cair. Vai se levantar?

Errará menos o sujeito que não se mexe, não almeja, não move um milímetro para saltar do lugar em que está. Com medo de errar, não vai propor nada e nem se propor a nada. Aliás, essa pessoa tende a enxergar erros até nos acertos.

A vida prova: só erra quem faz. A vida comprova: só acerta quem já herrou muito.

* Manuscrito de Flaubert. Pesquisa: Régine Ferrandis, de Paris

 

 

Fonte: Yahoo

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