Entrevista: Cleidiana Ramos, jornalista do “A Tarde”, destaque do estudo “Parlamento e Racismo na Mídia”

Jornalista diz que “a mídia deve ter o compromisso no combate de qualquer tipo de desigualdade”.

Cleidiana Ramos, jornalista do “A Tarde”, da Bahia (veículo que se destacou na pesquisa Parlamento e Racismo na Mídia como o impresso que mais aborda a temática), foi entrevistada pela assessoria do Inesc. A entrevista desvendou o posicionamento e as ações implantadas pelo veículo sobre a igualdade racial. Na pesquisa Parlamento e Racismo na mídia, realizada pelo Inesc em parceria com a Andi: comunicação e direitos, 401 matérias jornalísticas que vinculam a questão do racismo ao Parlamento de 45 jornais diários, sendo cinco de abrangência nacional e 40 regionais/locais foram analisadas. Desta quantidade, 51 textos (12,7%) foram do jornal “A Tarde”. Acompanhe a entrevista com Cleidiana e você entenderá porque o veículo se destacou.

O jornal A Tarde foi considerado entre 45 veículos impressos o que mais aprofundou em temas sobre igualdade/desigualdade racial. Para você, qual o diferencial do veículo?

Há dez anos temos mantido procedimentos de dar uma atenção especial a esses temas, pois o jornal fica em Salvador, uma cidade com maciça representação populacional negra. Isso envolve o interesse de jornalistas, como eu e a colega Meire Oliveira, em estudarmos os vários aspectos da questão étnico-racial, mantermos fontes especializadas, ou  seja, um trabalho de formação continuada. Além disso, temos os cadernos especiais temáticos publicados, anualmente, no Dia Nacional da Consciência Negra que envolve trazer até o jornal representantes dos movimentos sociais, de governo e especialistas nos temas para discutir a pauta conosco o que já significa uma oportunidade informativa e educativa para a equipe que vai trabalhar nos especiais. É portanto um processo de formação continuada.

Desde quando o impresso vem dando atenção para temas relacionados ao racismo? Como essa transformação ocorreu?

Na verdade o jornal sempre teve uma cobertura pontual. Isso foi ampliado a partir de 2003 quando publicamos o caderno “Qual a Sua Cor? A Vida em mundo racista” no dia 20 de novembro. O especial foi sucesso de público o que levou o jornal a investir nesse campo de cobertura, pois percebeu que havia um interesse significativo dos leitores por esses temas. Inclusive, os nossos especiais e matérias do dia-a-dia tem ajudado professores como suporte didático para aplicação da Lei 10.639/03. Todos os especiais de 20 de novembro, desde 2008, trazem dicas pedagógicas de como usar o especial em sala de aula. Elas são preparadas pela professora Josiane Clímaco, que tem especialização em História da África e Cultura Afro-Brasileira.

Tem alguma matéria ou entrevista que você citaria como bom exemplo de abordagem sobre o tema?

É difícil apontar uma específica, pois abordamos temas variados dentro desse universo. Mas o conjunto dos dez cadernos é uma boa dica de inovação jornalística nesta questão.

Você disse que o jornal passou por uma transformação, essa transformação faz parte somente da editoria que cuida do tema ou de todos os setores?

O jornal tem passado, desde 2003, por sucessivas reformas editoriais e gráficas. São mudanças que envolvem todos os processos produtivos do veículo.

Você acredita que os veículos de comunicação podem ajudar o Brasil se tornar um país mais igual? Como?

Sim. Os jornais impressos, principalmente, continuam a ser utilizados como documentos de pesquisa em variadas áreas, afinal, tradicionalmente, eles são espelhos dos grupos sociais que têm acesso a eles. São meios de informação, mas também da transmissão e formação de pensamento. Daí que a sua responsabilidade é muito grande. Pena que ainda não temos uma cobertura pontual, sistemática, rotineira e aprofundada sobre a questão étnico-racial na impressa brasileira. Talvez os jornais precisem ser mais pressionados pelos movimentos  sociais neste sentido. Esclareço que não se trata de militância no sentido mais amplo, mas da compreensão que eles têm compromisso com os princípios básicos da Constituição Federal: liberdade de pensamento, crença e combate a qualquer tipo de desigualdade e discriminação

 

 

Fonte: Inesc

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