Polícia indicia médico que prescreveu tratamento para secretária de Políticas para as Mulheres, morta em março

 

Novo laudo aponta ligação entre a morte de secretária estadual de Políticas para Mulheres, a indicação de dieta rigorosa e a prescrição de remédio diurético

A Polícia Civil indiciou por homicídio culposo não intencional o cirurgião plástico que prescreveu remédios e uma dieta rigorosa para Márcia Santana, secretária estadual de Política para as Mulheres.

A responsabilização do médico João Carlos Correa Eschiletti ocorreu depois de a polícia receber novos esclarecimentos da perícia que apontou a causa da morte de Márcia, ocorrida em 13 de março, em Porto Alegre.

Em 22 de abril, a delegada Nadine Tagliari Farias Anflor, que conduziu a investigação, recebera laudos do Departamento Médico Legal (DML) que atestavam que a secretária fora vítima de mal súbito por causa indeterminada. Os exames não faziam relação entre a medicação que ela estava tomando para emagrecer, prescrita por Eschiletti, e a causa da morte. Enquanto preparava o relatório para enviar o inquérito à Justiça, no entanto, a delegada teve dúvidas sobre o laudo, e pediu novos esclarecimentos.

A resposta surpreendeu Nadine. O laudo assinado pelo perito médico-legista Oscar Carvalho de Lima Filho afirma que a dieta a que Márcia estava submetida somada à ingestão de diurético — um dos remédios prescritos para o tratamento de obesidade — permite que se faça “nexo de causalidade” com a morte.

Para delegada, houve imprudência no tratamento

Depois de receber os esclarecimentos da perícia, a delegada tomou novo depoimento do médico. Com esse resultado da perícia, a delegada entendeu ser possível responsabilizar Eschiletti pela morte de Márcia.

— Entendo que ele agiu com imprudência, por prescrever medicação que não é indicada para o tratamento de obesidade e dar dieta que atenta contra a saúde, conforme diz o perito. Diante dessa prova técnica, o indiciamento por homicídio culposo se impõe — explicou a delegada, que enviou o inquérito para a Justiça na tarde de ontem.

Outro fator reforça a suspeita de imprudência, segundo Nadine: o médico teria deixado claro em depoimento que tinha ciência de que Márcia era estressada. Com isso, segundo a delegada, o profissional não poderia ter receitado à secretária a mesma dieta de 500 calorias que prescreve a pessoas sem esse alto índice de estresse. Conforme a delegada, uma nutricionista ouvida confirmou que a receita dada a Márcia foi a padrão, de 500 calorias.

A polícia começou a investigar a causa da morte de Márcia depois de saber que ela estava fazendo um rigoroso tratamento para emagrecer. A secretária morreu uma semana depois de começar o tratamento. Entre a medicação prescrita, além de diurético, havia o HCG injetável — conhecido como hormônio da fertilidade — e que não tem aprovação no Brasil para uso em tratamentos de obesidade. A suspeita inicial era de que o HCG pudesse ter contribuído para a morte.

TRECHO DO LAUDO DA PERÍCIA

A mera prescrição, desde que seguida pelo paciente, de dieta de aproximadamente 500 kcal, associada ao uso de potente diurético espoliador de potássio, ofende a saúde dos que a tanto se submetem, dado o nível de estresse gerado. Se o conhecimento científico aponta determinado fator como causa possível de um evento, tendo-se presentes os dois, o fator (dieta restritiva e uso de diurético sem indicação apropriada) e o evento (arritmia cardíaca fatal) há condições para que se reconheça o nexo de causalidade vinculando ambos.

CONTRAPONTO

O que diz Nereu Lima, advogado do médico João Carlos Correa Eschiletti

Essa perícia diversa não alterou a conclusão do médico que fez a necropsia no dia da morte. Ele (o médico que fez a necropsia) não poderia trabalhar em cima de hipóteses e de probabilidades e, por isso, agora, diante de um questionamento meu, ratificou a conclusão que havia tido antes. Ele disse que mantinha a conclusão, destacando que não dispunha das informações (sobre o tratamento médico) que o segundo perito dispunha. Minha esperança é de que não haja denúncia diante de um conjunto de circunstâncias que trabalham com hipóteses.

Por: Adriana Irion

 

 

Fonte: Zero Hora 

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