Países do Caribe vivem onda agressiva de homofobia

Por Jean-Michel(Le Monde)

Melvin Durán, um jovem cineasta dominicano, conversava com um amigo em uma praça da cidade colonial de Santo Domingo, no domingo, dia 18, em um final de tarde. “Uma patrulha policial nos xingou e nos prendeu, nosso único crime foi parecermos homossexuais”, contou Melvin Durán ao site de notícias Acento.com.do

“Quando perguntei a um policial por que eles não nos dispensavam, já que não havíamos feito nada de errado, ele me respondeu: ‘Porque ser veado é pior que ser delinquente neste país’.” Levados de delegacia em delegacia, humilhados e ameaçados, os dois jovens só foram liberados na tarde do dia seguinte.

No mesmo fim de semana, em San Cristóbal, perto de Santo Domingo, um homossexual, Randelyn Mancebo Medina, foi barbaramente assassinado a pauladas e facadas. Seu assassino, que reconheceu ter pago para ter relações com ele, declarou à polícia que ele foi “obrigado a espancá-lo” porque o outro queria “inverter os papéis”.

No Haiti, na República Dominicana, na Jamaica e em outros países da região, as agressões contra homossexuais e transexuais se multiplicaram nos últimos meses. A homofobia não é novidade na Bacia do Caribe.

Leis que punem a sodomia com longas penas de prisão ainda estão em vigor em 11 países da região. Ainda que essas leis praticamente não sejam mais aplicadas, elas refletem o clima de intolerância e mesmo de violência no qual vivem os membros das comunidades LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais).

Pelo menos 25 homossexuais e transexuais dominicanos foram assassinados desde 2006, segundo a associação Amigos Siempre Amigos (ASA). Somente um dos assassinatos foi levado à Justiça. Segundo Leonardo Sanchez, o diretor da ASA, a violência desses crimes não deixa dúvidas sobre seu caráter de ódio.

No dia 22 de julho, Dwayne Jones, um travesti jamaicano de 17 anos conhecido como “Gully Queen”, dançava em uma festa perto de Montego Bay. Reconhecido por uma mulher, ele foi violentamente espancado, apunhalado e morto com um tiro. “Há poucas manifestações de indignação, pouca cobertura na imprensa”, lamentou a organização Jamaicans for Justice.

Em 2006, a revista “Time” havia chamado a Jamaica de “lugar mais homofóbico da Terra”. Sob a influência de igrejas protestantes inspiradas nos televangelistas americanos e de cantores homofóbicos, a situação praticamente não evoluiu. Em 2012, em uma pesquisa feita entre os jamaicanos, 46% deles disseram sentir “repulsa” pela homossexualidade. Somente 5,6% disseram “aceitar” pessoas que se declaram gays.

A Missão das Nações Unidas pela Estabilização do Haiti (Minustah) se declarou “seriamente preocupada com o aumento recente de violência homofóbica no país”. Segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), 47 casos de violências e agressões foram registrados entre os dias 17 e 24 de julho no Haiti. “Pessoas LGBT ou vistas como tais teriam sido alvo de ameaças de morte e suas casas teriam sido incendiadas ou saqueadas”, denunciou a CIDH.

A onda de violência se intensificou após as manifestações organizadas em julho em Porto Príncipe e em Jacmel por uma coalizão de igrejas protestantes contra “a institucionalização da homossexualidade no Haiti”. No dia 10 de agosto, uma festa particular organizada na capital para o noivado de um voluntário inglês e de um jovem haitiano foi violentamente interrompida a pedradas e coquetéis Molotov.

Em Santo Domingo, a cúpula católica está conduzindo a cruzada contra o novo embaixador dos Estados Unidos, James “Wally” Brewster, ativista LGBT e importante colaborador do presidente Barack Obama. Dom Pablo Cedano, bispo auxiliar de Santo Domingo, chamou sua nomeação de “falta de delicadeza e de respeito dos Estados Unidos”. “Se for confirmado, ele vai sofrer e terá de ir embora”, antecipou o bispo.

Essa posição foi reiterada por seu superior, o cardeal Nicolás de Jesús López Rodríguez, que chama os homossexuais publicamente de “maricones” (“veados”). Deivis Ventura, porta-voz da comunidade LGBT, retrucou criticando a “política de dois pesos e duas medidas da Igreja, que ataca os gays e dá cobertura aos padres pederastas”. 

 

 

 

Fonte: ViuOnline

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