Discussões sobre Branquitude: o grupo racial branco existe? – por Larissa Santiago

 

Depois de conversar com as pessoas e entender que muito do que a gente discute e afirma com bastante contundência faz parte das visões mundo e posições que ocupamos, me veio a preocupação em discutir e escrever sobre um outro lugar.

Muito se sabe sobre negritude, suas nuances e histórias, mas pouco se fala e se publiciza branquitude e sua participação nas relações sociais. A primeira questão a se refletir (partindo do meu texto anterior) é: o grupo racial branco existe?

Partindo da definição de raça de Guimarães, 1999 onde ela é “um conjunto de elementos e características ambientais, sociais e culturais que designam diferenciação entre seres humanos”, podemos afirmar que existem diferentes grupos humanos que se identificam e se reconhecem entre si a partir dessas características.

Se a gente falar, por exemplo, de índios ou nativos, entendemos que são seres humanos com determinadas características culturais (linguagem, religião, alimentação), ambientais (de espaço e lugar) e sociais (organização familiar, organização do trabalho) que se diferem de outros tipos humanos. Quando falamos do branco como raça, estamos assim pensando em indivíduos que possuem determinados elementos e características em comum e que também podem variar de acordo com as designações sociais, ambientais e culturais – vide índios brasileiros e índios norte-americanos.

O que acontece com o grupo racial branco é que suas características são “invisibilizadas” por uma falta de consciência de raça, como afirma Dalton 1995 (2005): 17

“Em parte, é a não consciência de raça [race obliviousnes] uma consequência natural de estar no banco do motorista. (…). Para a maioria dos brancos, raça – ou mais precisamente, sua própria raça – é simplesmente parte de um background não visto, não-problemático.”

 

Essa falta de consciência e não identificação de pertencimento (o que nada tem a ver com superioridade) tem trazido ao longo do tempo sérias consequências às relações sociais em todos os âmbitos. É engraçado por isto em cheque, pois o que mais se diz  em relação a negritude é sua afirmação como ponto de partida para a superação de todo prejuízo advindo da empreitada colonial. Mas quando se trata de branquitude, afirmar-se branco (ou reconhecer-se como parte do grupo) passa a ter, em especial para os próprios indivíduos brancos, uma certa “vantagem negativa”.

Isto posto, é preciso dizer que, assim como as questões raciais permeiam e moldam os jogos sociais de negros e outras “minorias”, o grupo racial branco precisa entender quais são essas questões e no que implica tê-las permeando suas vidas. Como uma ponta do que será discutido num próximo texto (privilégios), deixou outra citação de Dalton:

 

“Qualquer que seja a razão, a incapacidade ou ausência de vontade de muitos brancos em pensar a si mesmos em termos raciais tem decididamente consequências negativas. Por uma razão: produz pontos cegos. (…) Cega brancos para o fato de que suas vidas são moldadas pela raça, tanto quanto as vidas das pessoas de cor.”

 

Larissa-Santiago avatar 1385049276-90x90Larissa é baiana e escreve no Mundovão e no Afrodelia.

 

 

Fonte: Blogueiras Negras

 

 

+ sobre o tema

Mulheres em cargos de liderança ganham 78% do salário dos homens na mesma função

As mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança...

‘O 25 de abril começou em África’

No cinquentenário da Revolução dos Cravos, é importante destacar as...

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

para lembrar

Prefeitura de BH vai dar emprego para pessoas em situação de rua

Capacitar e dar oportunidades de emprego para a população...

Pablo Gutiérrez: Corte pode ordenar anulação do julgamento da AP 470

Pablo Gutiérrez: O duplo grau de jurisdição para os...

Escritor português ironiza seminário do golpe

Francisco Louçã, economista e político português, avalia que "só...

A vida felliniana e felliniesca de Sarney et caterva…

Volto ao repisado tema: o clã Sarney, cujo patriarca,...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na terça-feira que Portugal foi responsável por crimes cometidos durante a escravidão transatlântica e a era...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a advogada Vera Lúcia Santana Araújo, 64 anos, é...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz um levantamento da cobertura vegetal na maior metrópole do Brasil e revela os contrastes entre...
-+=