Grupo de 14 jovens de classe média é detido pela PM suspeito de agredir homossexuais no Aterro do Flamengo

Bando que se autodenomina “Justiceiros” dizia querer “limpar” o parque, disse vítima. Polícia investiga se há relação com o caso do menor encontrado amarrado nu também no Flamengo

 

Um grupo de 14 jovens foi levado à 9ª DP (Catete) nesta terça-feira (4) na região do Aterro do Flamengo por agredir, no domingo (2), homossexuais que frequentam a região. A PM informou que dois rapazes identificaram o bando, formado por 13 maiores e um menor, que foi levado para a 9ª DP (Catete). Segundo a PM, “o grupo tentou agarrá-los com o intuito de fazer justiça com as próprias mãos”.

A polícia chegou aos suspeitos nesta madrugada. Eles foram presos quando estavam próximos a uma pista de skate do Aterro. Os presos maiores foram indiciados por formação de quadrilha e corrupção de menores e o menor por formação de quadrilha. Eles prestaram depoimento e foram liberados após pagamento de fiança.

Os presos maiores de idade foram indiciados por formação de quadrilha e corrupção de menores e o menor por formação de quadrilha. Eles prestaram depoimento e foram liberados após pagamento de fiança.

De acordo com um jornalista que praticava corrida no parque e que escapou de ser agredido, eram de 25 a 30 os jovens entre 16 a 21 anos que participaram do ataque. A delegacia investiga se os jovens têm ligação com o caso do adolescente morador de rua que foi espancado na noite da última sexta-feira (31) e amarrado nu a um poste também no Flamengo. Na madrugada desta terça-feira, suspeitos de agredir o menor foram presos pela polícia no Aterro

A denúncia de violência contra os homossexuais foi também encaminhada pelo jornalista que testemunhou o ataque ao psicólogo e ativista LGBT Eliseu Neto.
Eliseu publicou no Facebook a conversa com o homem que escapou do espancamento. “Estava correndo na área do Aterro entre o Teatro de Bonecos Carlos Werneck e o restaurante Porcão, na altura da Avenida Osvaldo Cruz, quando de repente ouvi muitos gritos de ‘pega, pega’, mas não pude ver o que era exatamente porque as árvores cobriam a visão. Não deu nem dois minutos e vimos uma gangue de uns 25, 30 adolescentes, com idade aparente entre 16 e 21 anos no máximo, armados com pedaços de pau vindo em nossa direção”, contou.

O jornalista afirma ter visto um homossexual ferido na cabeça e no joelho após ser agredido pelo grupo de jovens moradores do bairro.

De acordo com o relato, o grupo começou uma verdadeira “caçada” pela região do Aterro. O parque é um notório ponto de encontro de homossexuais há décadas, parte aproveita a pouca iluminação para práticas sexuais. O grupo de jovens, de acordo com o relato, gritou aos frequentadores: “Vai embora daqui, viado! Vai f***r na sua casa. Vamos limpar o Aterro”.

O jornalista disse que conseguiu escapar porque os agressores não perceberam que ele é homossexual. “Do meio do grupo deles, alguém gritou: ‘Não é, não, para que não é não!’. Os do bando que estavam na frente correndo atrás de mim responderam ‘então eles estão correndo por quê?’ E continuaram atrás de nós. Pensei em parar para dizer alguma coisa, mas não dá pra dialogar com selvagens com pedaços de pau na mão correndo atrás de você”.

Na rota de fuga, o jornalista conta que encontrou um amigo que também procurava sair do parque para escapar das agressões. “Eu e Junior passamos correndo por trás do prédio do teatrinho, na direção das duas pistas de alta velocidade do Aterro, para sairmos, mas somos cercados por mais garotos do bando que entravam exatamente por ali e bloqueiam a nossa frente com os pedaços de madeira na mão mandando a gente parar. Junior para, mas eu continuo e enquanto corro grito com toda a força dos pulmões e com uma voz grossa carregada de ódio: “Mas que porra é essa que está acontecendo aqui”?”.
Ainda segundo o jornalista, os jovens perseguiram gays nas ruas internas do bairro. Diz o relato no Facebook:

“Aí acontece um dos momentos mais chocantes da noite. Os quatro homens gays percebem a multidão de garotos vindos com os pedaços de pau e entram correndo na Rua Cruz Lima, em direção à Rua Senador Vergueiro.

O bando de garotos começa acorrer atrás deles novamente, gritando, com as madeiras em punho, “pega eles, pega!”. E continuam correndo pela Cruz Lima e pela Senador Vergueiro, uma das principais ruas do bairro.

São tantos garotos correndo que eles se dividem ao meio, passa cada parte por cada um dos nossos lados, como se fôssemos uma bifurcação forçando um rio a se abrir pra direita e pra esquerda. Estão numa ira violenta tão grande para perseguir e espancar que nos ignoram. (Novamente é aquela lógica ignorante deles, ‘se estão correndo, é porque estão devendo’, como gritou um dos meninos). Não pararam pra mim e para o cara exatamente porque não corremos. Depois de todos os garotos passarem correndo, vem, sozinha, a única menina do grupo, caminhando calmamente”.

Ele afirma ter procurado a cabine da PM mais próxima, mas a encontrou vazia. Quando uma viatura apareceu, disse ter chegado a entrar no veículo para registrar a ocorrência na delegacia da área, mas desistiu por temer pela vida, já que é morador do bairro, e por não ter mais testemunhas para narrar o acontecido na distrital. Um dos jovens agressores ainda teria afirmado próximo às viaturas que estavam ali para “limpar o Aterro, já que a polícia não faz nada”. Como citado no início do texto, dois jovens que foram agredidos levaram o caso à polícia, fato que acabou resultando na prisão dos suspeitos.

Para Eliseu Neto, que também é integrante da Comissão LGBT do PPS (Partido Popular Socialista), a segregação do homossexual à sociedade acaba provocando a procura por lugares ermos.

“O gay é criado longe do flerte, não leva o namorado em casa, transa na pressa, no canto, rapidinho. Cria uma cultura, um fetiche por esse lugares. Creio que primeiro temos que vencer o preconceito na família, para que eles possam sentir à vontade em outros locais. Eu jamais tive esse fetiche, mas consigo entender quem ainda sente vergonha de entrar num motel (dois homens) e não pode levar pra casa. O que resta?”

O pelorinho improvisado: O racismo e seus tentáculos no seculo XXI

 

Fonte: O Dia

 

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