‘Achava que comprar apê era coisa de rico’, diz eletricista, após virar dono

Reginaldo Santana saiu de barraco alugado para condomínio com piscina da incorporadora Sindona, finalista do Empreendedor Social na categoria Inovações para o Século 21

Comprar um barraco na favela por R$ 8 mil estava nos planos do eletricista Reginaldo dos Santos Santana, 40, para sair do aluguel com a família.

Funcionário da incorporadora Sindona, que opera com imóveis diferenciados no mercado de baixa renda, Gão, como é conhecido, trabalhava na obra do prédio em Cotia (SP), mas não imaginava que um apartamento daqueles, em um condomínio com piscina e varanda, caberia no seu bolso.

“Pai, tem escorregador?”, perguntou uma das três filhas quando soube que ganharia um novo lar.

“Vai ter tudo ali, filha. Eu que fiz”, respondeu o operário que realizou o sonho da casa, apesar de no início desconfiar que não era para o seu bolso se tornar cliente do patrão.

A incorporadora em que Gão trabalha é finalista do Prêmio Empreendedor Social na categoria Inovações para o Século 21 ao transformar periferias com projetos de moradia popular que ganham cores, piscinas e jardins em áreas antes degradadas.

A seguir, o depoimento do eletricista que comprou seu primeiro apartamento.

“Meu sogro não gostou nada quando viu que tinha que atravessar uma viela e um córrego sujo para chegar na casa que a gente ia comprar. Era um barraquinho na favela.

Ele me ofereceu um puxadinho em cima da casa dele. Só que tinha que reformar tudo. Eu queria sair do aluguel, então caí para cima. Fomos morar em dois cômodos, sem piso, reboco só no teto.

Eu adoro obra e faço com orgulho, como se fosse para mim. Sou funcionário da Sindona há muitos anos.
Conheço o Bruno [Sindona] desde menino. Ele consegue te mostrar uma coisa que você não vê, é de outro planeta.

Nas nossas obras na Sindona, para achar algum defeito, uma parede torta ou coisa assim, tem que deitar no chão e caçar. O pessoal faz tudo com carinho mesmo.

Foi o próprio Bruno que me fez uma proposta para comprar um apartamento no prédio em que eu estava trabalhando. Dei risada. Você já viu funcionário da Ferrari comprando uma Ferrari?

Achei que ia ter um apartamento meu só se o governo chegasse em casa e me colocasse em um CDHU.

Para mim quem compra apartamento é quem tem dinheiro. Por isso, fui para a Caixa [Econômica Federal] achando que não iam aprovar o meu financiamento. Saí de lá com o contrato assinado. A gente trabalha, o dinheiro dá.

E quando contei para minhas filhas, uma delas perguntou: ‘Pai, tem escorregador lá?’. Eu falei ‘Filha, vai ter tudo ali.’ Eu me emociono, sabe? É um sonho.

Estar em um lugar que tem piscina, quadra, escorregador, balanço, é bom demais. De onde venho não é um lugar seguro. Dá um barulho lá fora, você tem que ver o que está acontecendo. Dentro do condomínio você solta as crianças e fica tranquilo.

Lá tem gente como eu. Eletricistas, pedreiros, motoboys, motoristas de aplicativo. Não tem nariz empinado, é uma quebrada melhorada.

Eu fico abobalhado, não sei se é orgulho. Mas é uma coisa boa ter construído e conseguir pagar. Ninguém me deu nada, eu lutei e consegui.

No dia de receber as chaves foi uma festa. Meus amigos da Sindona foram entregá-las, eu era o terceiro da fila. Minhas filhas já estavam no parquinho. Todo mundo balançou para chorar. A gente se abraçou.

Falavam: ‘Se o Gão consegue, eu consigo também, ele é que nem eu’.

Conheça os demais finalistas na plataforma Folha Social+. Vote e, se possível, doe para esta iniciativa na Escolha do Leitor até 20 de outubro em folha.com/escolhadoleitor2023.

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