Após vivenciar violência contra mulher, jovem cria projeto fotográfico

Ensaio fotográfico, assistência social e psicológica fazem parte do projeto.
Objetivo é resgatar identidade de mulheres; projeto foi criado em Piratininga.

Do G1

Após sofrer assédio sexual, presenciar sua mãe ser agredida constantemente por seu pai e ter contato com muitas mulheres que tiveram suas identidades afetadas por alguma situação de violência, a jovem Laysa Santiago decidiu ajudar mulheres que vivenciaram situações semelhantes. Com a ajuda de voluntários, ela iniciou neste ano o projeto Casa da Borboleta em Piratininga (SP), um sonho que ela carregava há anos. O objetivo é ajudar no resgate da identidade dessas mulheres por meio da fotografia documental e da ação social.

Laysa Santiago veio de Vitória, capital do Espírito Santo, para participar de uma escola de design realizada por uma ONG localizada em Piratininga. A jovem decidiu permanecer no local como voluntária em tempo integral e dar início à Casa da Borboleta na cidade.

O projeto consiste em fotografar mulheres que enfrentam ou passaram por algum tipo de conflito, com a finalidade de dignifica-las e restaurar a autoestima e a reflexão sobre si mesmas. As fotos são expostas em eventos e nas redes sociais, juntamente com a história das participantes, como uma forma de enfrentar a realidade e compartilha-la com outras pessoas.

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palestras e atendimentos relacionados a questões de maternidade, aborto, depressão, autoestima, agressão, estupro, abuso sexual, perda de pessoas próximas, identidade, comportamento, trabalho, doenças e outros temas comuns ao sexo feminino. “Comecei a ver a minha própria história e a de outras pessoas que sofreram agressão, estupro, abandono, perda de filhos, crises de identidade e autoestima, e decidi que queria ser uma resposta a essas mulheres, de alguma forma”, conta a idealizadora.

Experiência própria
Na infância, Laysa conta que presenciou o pai agredir sua mãe diversas vezes, tendo que lidar com o medo de denunciá-lo e a passividade da mãe diante das agressões. Além disso, aos 10 anos de idade, a jovem sofreu assédio sexual de um homem que, segundo ela, foi até a casa de sua avó consertar um rádio. O homem a chamou, agarrou-a pela cintura, abraçou e pediu para que ela sentasse em seu colo. “Eu não lembrava muito disso, até que conversei com uma psicóloga. Eu perguntei a ela se isso era abuso e ela confirmou. Existem muitos tipos de abuso sexual e as pessoas não reagem por falta de informação”, contou.

Comecei a ver a minha própria história e a de outras pessoas que sofreram agressão, estupro, abandono, perda de filhos, crises de identidade e autoestima, e decidi que queria ser uma resposta a essas mulheres, de alguma forma”

A equipe de voluntários do projeto se reúne quinzenalmente e é formada por outros integrantes da ONG, além de pessoas de fora que se interessaram pelo trabalho e se ofereceram para ajudar através de suas habilidades. Entre eles estão fotógrafos, psicólogos, pedagogos, enfermeiras, advogados, professores, jornalistas e outros que colaboram na parte de planejamento e administração.

A Casa da Borboleta realizou sua primeira exposição fotográfica em Piratininga no dia 7 de março deste ano, chamada “Espelhos”, e contou a presença de uma psicóloga. “Ela falou sobre identidade com base na psicologia, temperamento, personalidade, auto aceitação e os pensamento distorcidos que temos sobre nós mesmas como mulher. Tivemos também a apresentação de um clipe feito sobre uma música composta por Naara Monique, especialmente para a Casa, a apresentação do projeto e um café da tarde para as mulheres”, disse.

16592023527_26c309ee4f_bProjeto retrata mulheres que enfrentam ou enfrentaram conflitos (Foto: Divulgação/ Casa da Borboleta )

Participantes
Para dar início ao projeto, foi feita uma seleção e um questionário com 10 perguntas foi enviado às escolhidas. Um texto foi elaborado com as respostas e utilizado na exposição. As participantes desta primeira exposição são mulheres que tem baixa autoestima, adolescentes que tem dificuldade de relacionamento com os pais, mulheres com problemas de identidade, sentimentos de incapacidade, facilidade de se anular, depressão e mulheres que sofreram aborto natural e tiveram câncer de mama.

casa_da_borbleta_1Fotos são divulgadas em exposições e nas redes sociais (Foto: Divulgação/ Casa da Borboleta)

De acordo com Laysa, o retorno por parte das participantes tem sido muito positivo. “Muitas mulheres me procuram para dizer que, após participar do projeto, elas passaram a se observar e se amar mais, passaram a perceber que apesar do que sofreram e da luta que muitas ainda vivem no dia-a-dia, é possível manter intactas suas identidades.”

No momento a equipe está focada em fazer o reconhecimento de campo, entrando em contato com o CRAS, prefeitura e postos de saúde, a fim de levantar dados sobre a situação das mulheres em Piratininga e então dar continuidade à parte fotográfica e de assistência social.

“Nosso objetivo, no momento, não é promover eventos constantes e nem queremos partir para um feminismo radical, mas sim fortalecer conceitos, identidades e, através da pesquisa de campo que estamos fazendo, alcançar e servir mulheres em suas necessidades”, explicou a idealizadora.

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