Já pensou em falar guarani ou iorubá?
A quarentena pode ser a oportunidade aprender algo mais diferente do que fazer pão. Duas oficinas gratuitas e virtuais organizadas pelas mulheres da Coletiva Tear & Poesia de Arte Têxtil Preta Nativa oferecerão noções da língua indígena brasileira e da língua falada em regiões do oeste da África a partir desta segunda-feira (5).
As oficinas fazem parte do projeto “Pangeia Entre Elos – Palavra de Mulher” —Pangeia era o continente único que existia antes que fenômenos sísmicos os dividissem na configuração atual –e têm como público preferencial moradores das periferias, embora estejam abertas a todos.
Após os cursos introdutórios, haverá também aulas de grafismos indígenas e africanos, entre os quais os criadores dos cursos veem semelhanças. “Por que há semelhança se os continentes são distantes? O assunto ainda está em estudo e por enquanto não há respostas concretas”, diz Rita Maria Santa Rita Carneiro, coordenadora da Coletiva.
Por causa da pandemia de Covid-19, os encontros desta vez serão virtuais. As aulas, com 45 minutos de duração cada, já foram gravadas. A primeira oficina será de iorubá, de 5 a 13 de outubro, às 19h30, ministrada pelo nigeriano Prince Adewale Adefioye Adimula.
No período, serão destinados dois dias para um plantão de dúvidas do conteúdo exposto. Para esta oficina não há mais vagas, pois em três dias 2.500 pessoas se inscreveram.
O iorubá é muito usado no Brasil como ferramenta da liturgia nos cultos de candomblé. “Na linguagem iorubá o educador falará sobre seus costumes, música, alimentação, arte e religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda”, afirma Carneiro.
A oficina de guarani será realizada entre os dias 19 e 22 de outubro, no mesmo horário, com Tupã Sérgio e Tapaiyuna dos Santos Kitãulhu, ambos da aldeia Tape Mirim, que integra as terras indígenas de Parelheiros, no extremo sul da capital paulista. As inscrições vão até o dia 16.
Em ambos os casos, as aulas trarão a importância dos idiomas na formação sociocultural do país, mostrando suas influências nos hábitos e costumes da população brasileira, seja na língua, alimentação, religião ou nas artes.
“As oficinas vêm para fortalecer o movimento feminista de periferia e contribuir com a autonomia e emancipação, mantendo vivas as heranças femininas de plantar, cuidar, colher, tecer, bordar, recriar. Nós já temos relação com o povo guarani e agora com outros povos de outras regiões indígenas”, diz Carneiro. “Isso é importante para manter a rede e a articulação.”
A Coletiva Tear & Poesia de Arte Têxtil Preta Nativa é um grupo formado por mulheres moradoras das regiões de Campo Limpo e Parque Santo Antônio, no extremo sul da cidade, que atuam na região há 20 anos, com atividades de arte e cultura popular.
Elas bordam peças que valorizam a beleza e identidade afroindígena brasileira através de poemas e histórias ligadas à memória afetiva e herança cultural feminina, com questões relacionadas às mulheres negras e indígenas, crianças, à natureza, a culturas populares.
Informações sobre os projetos e as oficinas organizadas pela Coletiva, bem como a ficha de inscrição para o curso de Guarani estão no site www.tearepoesia.com