Tentar entender e identificar as raízes da violência e da criminalidade na sociedade atual é o começo do busca de soluções para os problemas. Conforme análise do cientista social e antropólogo Márcio Santos, o Brasil configurou-se desde a colonização como uma sociedade extremamente violenta e, segundo ele, “tal herança, nos traz consequências que precisamos enfrentar, diariamente”. Nesta entrevista, o cientista fala sobre os fatores que incidem no aumento da criminalidade, a banalização da violência e a busca pela paz. Confira!
Onde começam as raízes da violência e da criminalidade na sociedade atual?
Tenho uma tendência a concordar com a filósofa Marilena Chauí, que considera que, para entender a violência e a criminalidade, devemos começar analisando a estrutura autoritária e hierárquica da sociedade brasileira, percebendo como ela é violenta nos mais diversos aspectos. Por mais que não estejamos habituados a reconhecer isso, são violências o racismo, o machismo, a homofobia, todas as formas de preconceito.
Quais os fatores sócio-culturais e econômicos que mais incidem no aumento das estatísticas dos crimes?
Há diversos estudos e análises que mostram que um dos principais fatores para o aumento da criminalidade não é a pobreza em si, mas sim a desigualdade entre ricos e pobres numa determinada localidade. A presença deficiente das organizações estatais também deve ser considerada como fator que ‘incentiva’ outros tipos de violência: exemplar, neste sentido, é o que vemos em certas regiões de fronteira agrícola, onde a posse da terra é disputada de forma extremamente violenta.
Na sua opinião, a violência no mundo tende a aumentar? Ou é possível que consigamos ser mais pacíficos?
A história da humanidade é uma sucessão de violências, dos mais diversos tipos e extensões. Pensadores clássicos como Hobbes já diziam que o Estado surge a partir de um pacto social feito pelos homens que, vivendo em ‘estado de natureza’, acabariam matando uns aos outros. Pessoalmente, ao mesmo tempo em que confesso meu ceticismo em relação a uma ‘pacificação generalizada’ da humanidade, também não me iludo em supor que, no passado, a vida era mais tranquila. Basta lermos sobre a Idade Média européia, sobre as cruzadas e, até mesmo, sobre as guerras entre sociedades indígenas pré-colombianas, para vermos que crimes que hoje qualificamos como bárbaros – é importante sabermos que essa definição muda ao longo da história – não são exatamente novidades.
Fonte: Primeira Página