Djamila Ribeiro denunciará Twitter no Ministério Público por ‘explorar o racismo e a misoginia’

A escritora e colunista da Folha Djamila Ribeiro vai ingressar com uma representação no Ministério Público contra o Twitter. Ela alega que a rede social “explora economicamente o racismo e a misoginia” e “lucra com ataques sem defesa a mulheres negras”.

Djamila foi um dos assuntos mais comentados daquela plataforma no fim de semana, quando ela foi alvo de críticas por ter veiculado um conteúdo comercial pago pela empresa de táxis 99 em um momento em que entregadores de aplicativos fazem greves por melhores condições de trabalho.

“A gente entende que essas pessoas são levianas, fazem ataques descabidos”, afirma à coluna Djamila, que diz já ter manifestado apoio às paralisações dos entregadores. “Mas entendemos que o Twitter permite”, afirma.

A escritora também registrou boletim de ocorrência por ameaças recebidas por ela e por sua filha devido à repercussão do fim de semana.

 

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Já faz tempo falo sobre como o Twitter é uma rede tóxica para mulheres negras. Segundo pesquisa da Anistia Internacional, mulheres negras estão 84% mais propensas a receberem tweets problemáticos do que mulheres brancas. Segundo a tese de doutorado do PHD em Sociologia Luiz Valério Trindade, as mulheres pretas são as maiores vítimas de discurso de ódio nas redes sociais em geral e no Twitter, em particular. Ele explica que isso se dá pelo incômodo que a ascensão e protagonismo delas causa em uma sociedade racista e machista. Eu recebo muitas mensagens odiosas, as quais nunca me abalaram. Porém, ontem enviaram mensagens odiosas para a minha filha. Isso se deu por conta de fake news produzidas no Twitter desde a semana passada. Mais uma vez, essa rede social lucrando com o ódio, como afirma Adilson Moreira, trata-se da exploração econômica do racismo e misoginia. Eu fiz um B.O (foto 2), pois é inadmissível que esse tipo de perseguição aconteça, agora direcionada a uma adolescente. Críticas são no campo das ideias, quando fazem afirmações caluniosas de que tal pessoa é contra uma categoria, trata-se de ataque irresponsável que pode colocar essa pessoa em risco. Friso que respeito todas as identidades, mas ser negra é para além da cor da pele. É preciso tornar-se negro no sentido político ou como diz a professora afro francesa Maboula Soumahoro, “precisamos diferenciar negros que decidiram ser negros”. Isto significa dizer que ser negra politicamente é jamais aceitar o jogo da branquitude colonial para atacar desonestamente uma mulher preta que faz um trabalho sério; é saber que há um histórico de linchamento contra pessoas negras; é não se deixar usar pelos verdadeiros ricos que nos querem tuteladas ou subalternas. Precisamos fazer essa diferenciação. Por mais execráveis essas pessoas sejam, friso que, como disse na live, nunca ameacei processar ninguém, o que se trata de mais uma fake news. Meu foco é representar o Twitter no MP, uma empresa bilionária, que lucra com ataques sem defesa a mulheres negras. Farei parte da Campanha Internacional “Stop hate for profit” e denunciarei de forma global. Gratidão pelo carinho que recebi. Ogun Pá wá 😍

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Por meio de nota, o Twitter diz saber que “ainda temos a avançar em nossos esforços para promover conversas cada vez mais saudáveis”, mas que tem “tomado uma série de medidas nos últimos anos para endereçar esse compromisso, incluindo a revisão de regras e políticas”.

 

“O Twitter tem sido o lugar em que movimentos da sociedade, como por exemplo #VidasNegrasImportam, #ÉCoisaDePreto, #MeuExAbusivo e #MeuAmigoSecreto, nascem ou ganham visibilidade”, afirma a plataforma.

Leia abaixo a íntegra da nota do Twitter:

“Sabemos que ainda temos a avançar em nossos esforços para promover conversas cada vez mais saudáveis no Twitter, e estamos abertos à colaboração de diferentes partes interessadas em nos dar sugestões de como fazer as pessoas se sentirem mais seguras em se expressar na plataforma.

Dito isso, é importante ressaltar que temos tomado uma série de medidas nos últimos anos para endereçar esse compromisso, incluindo a revisão de regras e políticas, como a de conduta de propagação do ódio; o aumento na detecção proativa, via tecnologia, de conteúdos potencialmente abusivos; e o lançamento de dezenas de recursos e funcionalidades para que as pessoas possam controlar sua experiência na plataforma, como a possibilidade de ocultar Tweets o experimento que limita quem pode responder a um Tweet, por exemplo.

“Além disso, por sua característica aberta e pública, em que diferentes perspectivas podem ser acessadas por todas as pessoas que usam a plataforma, o Twitter tem sido o lugar em que movimentos da sociedade, como por exemplo #VidasNegrasImportam, #ÉCoisaDePreto, #MeuExAbusivo e #MeuAmigoSecreto, nascem ou ganham visibilidade.”

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