Eleitorado feminino cresce, mas representatividade da mulher na política segue baixa em AL

Um recente levantamento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mostrou que em 2018, o eleitorado em Alagoas é composto por mais mulheres [1.166.000] do que homens [1.021.977]. Porém, mesmo com a presença feminina sendo maior na hora de votar, a representação da mulher na política ainda é baixa no Estado.

Por Raíssa França, do Cada Minuto 

(Foto: Nelson Junior/VEJA)

A lei 9.504/97 foi instituída para que a participação da mulher na política pudesse ser ampliada. Ela determina o percentual de gênero de no mínimo 30% e máximo de 70% para candidaturas de cada sexo, entretanto, em Alagoas o cenário ainda é reduzido para quem é do sexo feminino.

Na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), dos deputados que fazem parte da ALE, só duas são mulheres [Jó Pereira – PMDB e Thaíse Guedes – PTB]. Na Câmara de Vereadores de Maceió, dos 21 vereadores, apenas seis são mulheres. Já no Senado, não há nenhuma mulher representando Alagoas.

Para saber quais as dificuldades que as mulheres engajadas na política enfrentam, o Cada Minuto conversou com a vereadora Tereza Nelma, a deputada Thaíse Guedes e a ex-senadora e hoje, pré-candidata a deputada federal, Heloísa Helena.

Para a vereadora Tereza Nelma, mesmo com os 30% que permitem às candidaturas de mulheres, ainda há recursos judiciais dos partidos conservadores contra esse carimbo de verba para as mulheres. “Eles usam o argumento que provocaria uma insegurança jurídica e que defendem a ‘igualdade’ e olhe que é, ainda, uma legislação injusta já que considera que 70% dos recursos sejam destinados aos homens”, comentou.

Mas, a vereadora afirmou que se os partidos usarem, efetivamente, o recurso destinado às mulheres, o quadro vai mudar. “A mulher que participa da política tem, em geral, mais sensibilidade humana do que os políticos machistas. Estou no quarto mandato de vereadora. Em nenhuma das eleições contei com recursos partidários ou de empresários”, ressaltou Tereza.

A deputada Thaíse Guedes disse que a presença feminina na política é fundamental para o fortalecimento da democracia, mas acredita que o cenário está mudando. “Podemos perceber uma parcela da juventude feminina mais consciente e engajada em projetos sociais”.

Preconceitos 

A ex-senadora Heloísa Helena disse que os preconceitos existem nos ataques de adjetivos machistas contra ela. “Eles me chamam de histérica, louca, mal amada” ou então a perseguição implacável dos fake news. Mas nunca foram suficientes para me enfraquecer mesmo nas derrotas, pelo contrário, pois aprendi com minhas dolorosas cicatrizes a seguir lutando corajosamente e não assinar a rendição da covardia”.

Tereza Nelma enfatizou que sempre sofreu e ainda sofre preconceito por ser mulher, principalmente por insistir em uma política que foge ao comum: inclusiva e para todos. “Não é fácil, mas eu reajo da melhor forma: permaneço fazendo a política que eu acredito e usando a política em prol do povo e não para enriquecimento próprio”, destacou.

“Difícil é quando esse preconceito parte de outras pessoas que não estão inseridas no meio, como já me questionaram “como a filha da costureira de Arapiraca pôde ser eleita por quatro mandatos?”, contou a vereadora.

Mulher e política: qual a dificuldade?

Para Tereza, além da exclusão rotineira dos homens, a pior parte é lidar com a falta de sororidade das mulheres. “Provavelmente, por termos chegado lá, mesmo diante de todos os “costumes sociais” que tentam nos impedir. As mulheres deveriam ser mais unidas e solidárias umas com as outras. Mas isso não acontece. Apesar das incansáveis tentativas de união, cada uma insiste em viver apenas no seu mundo”, ressaltou.

A deputada Thaíse Guedes disse que a representação feminina ainda é pequena e que algumas dificuldades são encontradas, mas é preciso “imposição para ser ouvida e ter as decisões acatadas”.

Obstáculos na política

A vereadora ressaltou que ser mulher na sociedade atual requer coragem para superar preconceitos, machismo e costumes de querer manter a mulher submissa e prisioneira. Mas, o maior obstáculo encontrado por ela quando decidiu ingressar na política   foi de “convecer a todos que não seria mais uma, fazendo mais do mesmo”. “Eu tive que me impor e mostrar às pessoas que as mulheres podem sim ocupar cargos de decisão e exercerem uma política mais humana e solidária”.

Thaíse Guedes disse que não encontrou dificuldade desde que ela decidiu entrar na política. “Pude contar com o apoio da família, amigos e de milhares de alagoanos que ano após ano, depositam confiança em nosso trabalho”.

Heloísa afirmou que são “muitos obstáculos pra quem não faz campanha com dinheiro público roubado e não gosta de cinismo, manobras e sabotagem”.

“Esses são os tanques de guerras sujas que sempre tivemos que enfrentar. Enfrentamos obstáculos como milhares de outras mulheres enfrentam todos os dias no seu cotidiano de extremas dificuldades, pois a política apenas reflete as normas perversas da vida em sociedade. Aprendemos na longa jornada a enxugar lágrimas, levantar das quedas, cuidar das feridas e sempre seguir em frente”, finalizou Heloísa.

+ sobre o tema

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz...

para lembrar

Mulheres, adolescentes e homens, na maioria indígenas, dividem delegacia no Amazonas

A delegacia municipal de São Gabriel da Cachoeira (AM),...

69,3% dos brasileiros escolhem parceiros da mesma cor ou raça

Censo 2010: Uniões consensuais já representam mais de 1/3...

Conferência reivindica políticas de comunicação

Fonte: Lista Racial - Mesmo sem ter oficialmente...

É preciso descer do pedestal para entender a Nova Classe Média

Em dez anos, algumas mudanças econômicas colocaram o...

Foi a mobilização intensa da sociedade que manteve Brazão na prisão

Poucos episódios escancararam tanto a política fluminense quanto a votação na Câmara dos Deputados que selou a permanência na prisão de Chiquinho Brazão por suspeita do...

MG lidera novamente a ‘lista suja’ do trabalho análogo à escravidão

Minas Gerais lidera o ranking de empregadores inseridos na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A relação, atualizada na última sexta-feira...

Conselho de direitos humanos aciona ONU por aumento de movimentos neonazistas no Brasil

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, acionou a ONU (Organização das Nações Unidas) para fazer um alerta...
-+=