Ela afirmou que seu filho “não tinha passagem pela Polícia, não andava com más companhias, que era trabalhador” e que a versão de que estavaconduzindo um carro roubado e que teria resistido a tiros “é uma montagem para encobrir as circunstâncias suspeitas da sua morte”.
S. Paulo – O Exame Residuográfico realizado pelo Centro de Exames, Análises e Pesquisas do Núcleo de Química do Instituto de Criminalística de S. Paulo nas duas mãos do ajudante de pedreiro Cristiano da Silva (o primeiro na foto), o jovem negro de 20 anos morto a tiros por policiais militares na madrugada de 16 de maio na Estrada Santa Inês, Vila Nova Cachoeirinha, deu negativo, indicando que o mesmo não atirou conforme a versão apresentada pela Polícia.
O laudo, assinado pela perita criminal Cristina Pumeda Crespo, declara não existirem “partículas de chumbo na amostra suspeita analisada”. “Neste caso, a conclusão sobre o fato, em princípio é a de que não houve disparo de arma de fogo”, afirma o laudo.
No Boletim de Ocorrência 4815/2010 – transformado no Inquérito Policial 310/2010, instaurado no 13º DP da Casa Verde e enviado ao Fórum de Santana na última quinta-feira (08/07) – a morte do ajudante de pedreiro consta como resistência seguida de morte. O inquérito é presidido pelo delegado Evandro Hilton Leal, do 38º DP, que já ouviu a mãe do rapaz, a diarista Maria Cristina da Silva.
Ela afirmou que seu filho “não tinha passagem pela Polícia, não andava com más companhias, que era trabalhador” e que a versão de que estava conduzindo um carro roubado e que teria resistido a tiros “é uma montagem para encobrir as circunstâncias suspeitas da sua morte”.
Cristiano, que não sabia atirar e não tinha arma, teria sido surpreendido na condução de um veículo roubado e, ao ser abordado, teria reagido atirando com a mão direita recebendo dois dos quatro tiros disparados pelos PMs Diego Leonardo Silveira e Fábio Roberto Juvenal dos Santos, os dois ocupantes da viatura M-47316. Cristiano, que não tinha arma, nem habilitação, embora soubesse dirigir, era canhoto, segundo a mãe.
Também no inquérito figura como vítima, o proprietário do Fox roubado na noite de sábado, dia 15/07, no Mandaqui e em cuja direção estaria o ajudante de pedreiro. O Boletim de Ocorrência registra que o proprietário – José Luiz Sales – não reconheceu o rapaz “como um dos meliantes que perpetraram a aludida ação delituosa”.
Posteriormente, o mesmo Sales diria em outro depoimento que não poderia afirmar com 100% de certeza de que não se tratasse de um dos autores do assalto, embora no horário em que o roubo ocorreu, Cristiano – conforme afirmam sua mãe e várias testemunhas – estivesse em casa, de onde só sairia após as 22h.
A morte de mais um jovem negro em circunstâncias suspeitas, denunciada por Afropress, foi objeto de ampla reportagem de cerca de 4 minutos veiculada pelo Jornal da Record, na edição desta segunda-feira, dia 12/07.
A reportagem ouviu a mãe do rapaz e o advogado Dojival Vieira, que acompanha o caso, designado pelo Conselho De Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – Condepe.
Inquéritos
O caso está sendo investigado em dois Inquéritos – um civil e um militar, este último conduzido pela tenente Camila Cristina Brancalhão do 47º BPM.
No inquérito civil, enviado ao Fórum de Santana com pedido de prazo pelo delegado que o preside, consta entre os documentos um conjunto de seis fotografias.
As fotos, supostamente tiradas pelo delegado Carlos Arezio Biondi, do 13º DP, que atendeu a ocorrência, mostram o carro roubado, com placas adulteradas, duas cápsulas de bala; em outras duas o ajudante de pedreiro é mostrado já morto numa maca e outra a área do corpo onde foi atingido.
Há ainda uma foto do braço da vítima tatuado com o nome “Sueli” – o nome da sua penúltima namorada.
Embora sem valor de prova, uma vez que o Exame da Perícia Técnica ainda não foi juntado, as fotos induzem a confirmação da versão da PM, ou seja: de que a morte teria se dado em função da resistência, embora nenhuma delas mostre o rapaz no local onde o carro foi encontrado, muito menos portando a arma, da qual teria atirado.
Exame Residuográfico
No laudo do Exame Residuográfico, a perita que o assina, mesmo afirmando como primeira hipótese o resultado negativo, ou seja não houve disparo, adianta uma segunda hipótese: “Da existência de partículas de chumbo na amostra suspeita analisada, porém, em concentração abaixo do limite de detectabilidade inerente a sensibilidade do reagente químico utilizado”.
“Neste caso, a conclusão sobre o fato fica condicionada a apreciação de outras evidências, não se podendo descartar, de plano, a possibilidade de que o individuo (suspeito, indicado ou vítima), tenha efetuado disparo de arma de fogo (ou similar). O laudo também é assinado pela perita criminal Danya Moyses Fialho e tem a data de 27 de maio.
Tiros
Na perícia que analisou as armas, a perita Sonia Sanjar, também do Instituto de Criminalística, em resposta à pergunta sobre se a as armas apresentavam vestígios produzidos por disparo recente, responde. “A pesquisa de resíduos de pólvora combusta ficou prejudicada e isto em face ao lapso de tempo ocorrido entre a época da ocorrência e a do exame laboratorial bem como devido a pouco estabilidade dos produtos oriundos da combustão. O laudo também deu negativo para as armas dos policiais, que é assinado pelas peritas Telma de Carvalho Penazzi e Eliane Baruch.
O laudo do Exame Residuográfico, acrescenta que esse tipo de exame “por si só, não pode ser considerado como prova técnica contundente, única e definitiva para se estabelecer a correlação existente entre o vestígio detectado ou não e o fato questionado. “Pode apenas servir como referência uma orientação técnica que sonda a outras exames periciais de evidência material (por exemplo do local, balística, etc) e ou de provas circunstancias ou testemunhas, avalia na convicção o caso requer”.
Fonte: Afropress