Investir na saúde da gente não tem preço, não é Excelência?

Por: Arísia Barros

 

Era uma senhora de estatura grande e do mesmo tamanho era o seu gosto em conhecer pessoas, abrigá-las em interesses e afetos. Era uma criatura que compartilhava alegrias, dessas que traz o diferencial de valores para a nossa vida, às vezes oca do prazer de jogar conversa fora e recolhê-la n’alma.

Recebia- nos em sua casa com a oferta de um cafezinho, de sabor inigualável, saído do fogo na hora que aportávamos em sua vida. Amava conversar as muitas histórias da construção de Brasília como um museu de memórias da família. O marido trabalhou na fundação, da agora, Capital Federal.

Não direi seu nome, apenas afirmo que durante muitos anos trabalhou como servidora pública do estado de Alagoas.

Um dia aposentou-se e com a aposentadoria surgiu a doença. Um câncer abraçou o resto de sua vida. Foram quase 16 anos tentando combater a moléstia que insistia em secar-lhe as palavras dos lábios acostumados a exercitá-las, mas ela resistiu bravamente até os últimos três anos, quando a dor encolheu sua vontade de viver e o silêncio enterrou a magia do sorriso gratuito.

A doença na pobreza cobrava seu preço: a mercê do tratamento do deficitário serviço público prestado pelo estado (IPASEAL!?), a dor da impotência tornava o sofrimento incomensurável, me dizia filha.

Atualmente o Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Alagoas- IPASEAL conta com um único oncologista para atender a demanda de dos credenciados.

Afinal, por que e para que essa carga monstruosa de impostos que pagamos aos cofres públicos?

A cada dia a doença degenerava a vida, a memória fazia-se traiçoeira. O mundo de lembranças da senhora estava morrendo junto com ela. Seu presente não tinha mais passado ou possibilidade de futuro.

Era uma vida que definhava a olhos vistos diante da dor da única filha que mesmo sentindo-se impotente, foi seu sustento em vida.

A ausência de um sistema de saúde estatal abreviou, consideravelmente, suas perspectivas de cura. Nas Alagoas das diferenças: ser pobre, morador de periferia, de pele preta ou parda é candidatura nata para mendigar nas portas do único Hospital Geral do Estado de Alagoas.

Humilhação diária imposta a tant@s e muit@s.

Essa senhora Excelência, morreu faz pouquinho e depois de 16 anos sendo a única cuidadora da mãe, a alma da filha (servidora pública) também adoeceu.

Excelência, investir na saúde da gente não tem preço!

E, como agora mais do que nunca, Vossa Excelência sabe disso, a gente pergunta: Já não é hora de valorizar a vida dos viventes de Alagoas?

Esses viventes que não têm nem heranças vitalícias ou portentosos recursos salariais (o aumento de 7% é irrisório ou risível) para desembolsar em torno de três mil reais e adquirir um plano de saúde padrão A, aquele que paga todos os procedimentos médicos nos melhores hospitais do país ou exterior?

A saúde em Alagoas, Excelência vive a relação desrespeitosa entre a pouquíssima oferta e um mundo de procura. E qualidade abaixo da média.

Qual é mesmo a média?

É hora de tratar a saúde da população tutelada como política estruturante, um dos princípios de cidadania.

Essa mesma população que durante as campanhas eleitorais recebe inúmeros tapinhas nas costas, abraços esfuziantes e promessa mirabolantes de erradicação dos problemas sociais, dentre eles o da ausência de saúde.

A saúde do povo alagoano, Excelência, merece tratamento Vip, padrão A.

Ou não?

 

 

Fonte:  Cada Minuto

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