Mandela e a incoerência dos conservadores. Por Cadu Amaral

Faleceu, em 05 de dezembro, aos 95 anos, o líder sul-africano Nelson Mandela. Símbolo da luta antirracista no planeta, Mandela se tornou referência na busca por mais democracia com tamanha força, que a direita internacional não teve alternativa se não aceitá-lo como liderança. Mesmo que ocultando algumas de suas principais características.

Nelson Mandela era militante da esquerda. Optou pela luta armada, filiou-se ao partido comunista de seu país e, ao sair da prisão, um de seus primeiros atos foi visitar Cuba.

Em um discurso na ilha caribenha, no ano de 1991, em virtude do 38° aniversário do assalto ao quartel de Moncada, Mandela não poupou elogios ao modelo de sociedade cubano. Suas palavras foram mais do que mero protocolo.

“Nós também queremos ser donos do nosso próprio destino. Estamos determinados a assegurar que o povo da África do Sul para forjar o seu futuro, continue a exercer os seus direitos democráticos com plenitude após a libertação do apartheid”, disse.

“Sabemos que o espírito revolucionário de hoje começou há muito tempo e que ele foi alimentado com o esforço dos primeiros combatentes da liberdade em Cuba e, de fato, para a liberdade de todos aqueles que sofrem sob o domínio imperialista”, afirmou em outra parte de sua fala.

Mandela também lembrou as ajudas de Cuba a povos africanos que lutavam por sua libertação. “Sabemos também que esta era uma ação de classe em Cuba. Sabemos que aqueles que lutaram e morreram em Angola eram apenas uma pequena parte dos que se voluntariaram. Para o povo cubano, o internacionalismo não é apenas uma palavra, mas algo que já vemos posto em prática para beneficiar grandes segmentos da humanidade”.

Porém, para lograr êxitos político na África do Sul, Mandela teve de recuar em diversos pontos de suas convicções. Escondeu sua relação com o partido comunista para que o imperialismo não interviesse alimentando ainda mais o estado de guerra pelo qual passa seu país.

Nem de longe ele abandonou o principio básico da igualdade. Mas jamais o fizera na forma como a mídia internacional tenta fazer parecer. Faltando apenas imagens de Mandela beijando os pés da elite branca da África do Sul.

Quando, em discursos, Mandela afirmava que não queria supremacia branca nem negra, isso jamais significou dizer que o Estado sul-africano não promoveria a ascensão dos negros, que valeria a irritante verborragia da meritocracia. Tão comum no Brasil.

O principal ponto de Mandela foi, ao se tornar presidente, buscar unificar o país na questão racial. Tentar eliminar a barreira cultural do preconceito. A econômica, que determina a política, é bem mais difícil e isso os sul-africanos não conseguiram. Mas os avanços conquistados graças à luta comandada por ele são inegáveis.

O mais engraçado é ver, nas redes sociais, aos montes, pessoas contrárias às políticas de cotas, odiosas com a esquerda devido à luta armada contra a ditadura civil-militar de 1964 e por ter relações com Cuba.

Esse comportamento é a mais nítida expressão de como a mídia de massas pode manipular as pessoas. Mandela representa tudo o que elas dizem odiar. Sorte de Mandela não ter nascido no Brasil, seria tachado de terrorista, petralha e coisas do gênero.

Vida longa à luta de Nelson Mandela!

 

 

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