Manifesto do Seminário Respostas ao Racismo em defesa das ações afirmativas

 

 

A seguir o Manifesto apresentado durante o Seminário Respostas ao Racismo: produção acadêmica e compromisso político em tempos de ações afirmativas, realizado na Universidade de Campinas, em 3 de dezembro de 2009. Novas adesões devem ser enviadas para o e-mail [email protected].

Manifesto do Seminário Respostas ao Racismo
em defesa das ações afirmativas para negros e indígenas no Brasil

Unicamp, Campinas-SP, dezembro de 2009

As experiências recentes de implementação de ações afirmativas no Brasil, sobretudo as que dizem respeito às cotas raciais nas universidades públicas, intensificaram um debate que evidencia a complexidade do racismo à brasileira. Se, por um lado, um conjunto de pesquisas constata um evidente prejuízo histórico das populações negras e indígenas, apontando, portanto, para a legitimidade e a pertinência da adoção de medidas reparatórias para esses segmentos da sociedade, por outro, observa-se em diversos espaços e, em especial, na mídia, a veiculação de uma discussão empobrecida, caracterizada pelo predomínio de argumentos reducionistas, contrários às cotas e que negam a existência do racismo.

Diante disso, nós, organizadoras/es, palestrantes e participantes do Seminário Respostas ao Racismo: produção acadêmica e compromisso político em tempos de ações afirmativas e demais assinantes de deste manifesto, defendemos a ampliação do debate sobre a relação entre produção de conhecimento e racismo e nos pronunciamos publicamente a favor da implementação das políticas de ações afirmativas para o combate à discriminação racial.

Reconhecemos que tais políticas, como instrumento legítimo de promoção de justiça social, têm contribuído e contribuirão para assegurar a igualdade de oportunidades entre os diversos grupos sociorraciais do país. Lembramos que, diferentemente do ocorrido em países nos quais tais medidas foram originalmente implementadas a fim de reverter os efeitos de políticas de Estado segregacionistas, no Brasil, a imagem de um país miscigenado foi utilizada como equivalente à existência de uma “democracia racial”. E este arranjo interessado ainda é um dos principais pilares dos argumentos contrários às ações afirmativas.

Consideramos que a ciência, parte da cultura, não está imune às formas de reprodução do racismo difuso na sociedade brasileira, tanto nas relações cotidianas quanto nas práticas institucionais. É o que ocorre, por exemplo, no espaço acadêmico, quando se negligencia a importância de um diálogo efetivo com outras formas de saber. Questionamos, portanto, a própria estrutura das universidades, bem como a forma e a natureza do conhecimento nelas produzido, defendendo as ações afirmativas como medidas pertinentes à necessária reestruturação destes espaços.

Acreditamos que o aumento da participação de negros e indígenas e a inserção de novas perspectivas de conhecimento são peças-chave para a garantia do mérito e o desenvolvimento de um conhecimento crítico e de qualidade.

Por fim, reconhecendo a importância da Unicamp como instituição de excelência na produção de conhecimento científico, defendemos a implementação de medidas mais incisivas que garantam o acesso e a permanência de estudantes negros e indígenas nos seus cursos de graduação de pós-graduação. A realização desse Seminário é vista, assim, como uma oportunidade ímpar para estimular novas iniciativas de combate ao racismo.

Fonte: Meio Norte

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