O caminho é a gente quem faz – Por: Fernanda Pompeu

Quando faltam apenas dois anos para eu andar de graça no metrô de Sampa, é inevitável uma certa tendência aos balanços de vida, ou às memórias da caminhada. A partir de agora, a questão não é o que contar (quase toda a água do oceano), mas escolher o que vale a pena compartilhar. Nada de conselhos ou lições. Mas narrar o que creio verdadeiro, servido em dicas despretensiosas.

Aliás, a primeira boa dica é justamente a despretensão. Repare que quanto mais simples e diretos somos – no trabalho e na vida – mais sucesso alcançamos. E se não for sucesso em grana, que seja em alegria. Lembro aqui o que escreveu o irreverente Oswald de Andrade (1890-1954): A alegria é a prova dos nove. 

Não digito a palavra felicidade, pois esta tem a duração de segundos, ao passo que a alegria é companhia mais duradoura. Tenho ruminado, nos últimos dias e noites, o quanto perdi tempo (e portanto dinheiro, oportunidade, alegria) tentando agradar mais aos outros que a mim mesma. Perdendo-me no vão caminho de ser a expectativa alheia.

Várias vezes por falta de coragem, ou por excesso de medo, o que dá na mesma, abri mão de uma ideia, um processo, um jeito de fazer. No lugar de me impor e me expor, concordei com coisas que não acreditava. Fiz isso para agradar um cliente, para ganhar um leitor hipotético, para não magoar uma amizade, para sei-lá-o-porquê.

Em repetidas situações abri mão do meu caminho. Embarquei em canoas furadas, entrei de gaiata em carcomidos navios. Quero dizer, não há nada de errado em compartilhar projetos, sonhos, até loucuras. Desde, é claro, que eles sejam sinceramente coletivos. Desde que todos os participantes lucrem com a empreitada e sejam honestamente creditados.

Mas o futuro existe até para quem daqui a dois anos vai andar de graça no metrô. Ainda há tempo de costurar novas relações de trabalho e, portanto, novas modalidades de relacionamentos. Não sou a dona da verdade, mas também não sou a proprietária da mentira. Conheço as condições para eu fazer melhor o meu trabalho. A principal delas é fazê-lo com alegria.

Quando a gente segue um guia, ou um líder, não por que precisamos, mas por medo de propor outra direção, estamos a caminho da frigideira. Nela, iremos arder como batatinhas. Ficaremos no ponto e crocantes para a boca dos outros. Essa é a lei na culinária da vida.

Fonte: Yahoo

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