Por: MARTINIANO J. SILVA
Não sei se os possíveis leitores do que publico no DM estão percebendo que os últimos artigos publicados- sistematicamente – têm a ver com o livro Racismo à Brasileira: raízes históricas (1985),de minha autoria, em 4ª edição nacional, distribuído e vendido nas melhores livrarias do país. Por que isso? Antes de tudo, porque como autor, essencialmente, tenho direito e o dever de propagá-lo. Em segundo lugar, porque desde que saiu sua 1ª edição (1985), causou surpresas e até “frisson” aos defensores da em pavonada democracia racial. No ano seguinte foi premiado como o melhor livro de história- com o “Trofeu Tiocô”- pela União Brasileira de Escritores – UBE-GO. Se não bastasse, ainda em sua primeira edição, além deprefaciado pelo notável historiador e sociólogo, Clóvis Moura, de saudosa memória (lá se vão 10 anos de sua morte dolorosa-23/12/2003), tornou-se conhecido e respeitado em vários Estados onde o consegui levar, com enorme dificuldade, apoiado pelos movimentos negros: Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Pará, dentre outros, não podendo esquecer que no chamado ambiente universitário, como prudentemente me advertira Clovis Moura no prefácio, deve ter sido visto com alguma ressalva ou o tal de “pé-atrás”, pois, dentre os racismos ali descritos e demonstrados, está o também dissimulado”racismo acadêmico”, ocultado pelo o que chamo “silêncio institucional público” (existe também o de ordem privada),às vezes mantido na Academia até pela metodologia e forma como trata o objeto em estudo. Não raro, sei de muitos professores e alunos que já na 1ª edição passaram a usá-lo e respeitá-lo, cada dia mais. Em Goiás, onde continua a ser usado, lembro, a guisa de ilustrar, entre outros, os eficientes doutores, Alex e Carlos R. Brandão.
Continuo propagando o livro, desejando levá-lo a todos os lugares do mundo! Primeiro, imaginando tê-lo escrito para todos os tempos; em segundo lugar, por ter sido advertido desde sua 1ª edição por interessantes personalidades das ciências e da literatura, da necessidade de sua divulgação. O importante escritor brasileiro, nascido em Goiás, José J. Veiga, escreveu em carta:
“Racismo à Brasileira é um trabalho sério de pesquisa e reflexão, e oportuno, e essencial, porque contestado cumentadamente o velho mito da “democracia racial brasileira”. Livro importante, que certamente dará que pensar, se for bem divulgado”.
De sua parte, o antropólogo e escritor Carlos R. Brandão, conhecido e respeitado professor da Unicamp/UFG, autor de valiosos livros, inclusive da temática – Educação -, escreveu:
“Um livro forte e vigoroso, cheio de ensinamentos que aproveitei e aproveitarei ainda muito. Espanta-me como você em Mineiros, tão longe dos ‘grandes centros’, consegue manter uma atividade militante e intelectual de tão grande qualidade”.
O jornalista e escritor José C. Leite, de São Paulo, opinou: “Excelente livro… Uma obra prima da reflexão sobre esse velho tabu da nossa realidade”.
O confrade da Academia Goiana de Letras, Ubirajara Galli, cognome carinhoso Bira, creio até um tanto exagerado, disse:
“Há cinco décadas, o estudo das questões afro-brasileiras faz parte do cotidiano do escritor Martiniano José da Silva. Tal empenho, em defesa da rica miscigenação, ainda estupidamente combalida, não apenas no hemisfério Sul do planeta, fez dele o grande referencial, latino-americano, da sagacidade secular e contemporânea da raça negra”.
É assim que me atrevo a publicar mais um texto que analisa, interpreta e julga o Racismo à Brasileira, tratando-se do que estáescrito na”orelha” da sua 4ª edição pelo referenciado Kabengele Munanga, Dr. em Ciência Social; insigne antropólogo e professor titular da Universidade de São Paulo (USP), com ênfase em Antropologia das Populações Afro-Brasileiras. Espero que o texto transcrito o faça feliz. Oxalá , possa ser degustado. “Há vinte e três anos foi publicada a primeira edição do Racismo à Brasileira: raízes históricas, de Martiniano J. Silva. Um livro cujo sucesso se manifesta pela publicação da segunda edição, realizada apenas um ano depois da primeira, em 1986. Esta quarta edição que se concretiza treze anos depois da terceira (1995), foi ampliada, atualizada e totalmente revisada. Ela oferece ao leitor e ao estudioso um conteúdo novo acrescentado ao antigo numa perspectiva histórica que acompanha os debates intelectuais em torno do racismo no mundo,o discurso e a luta antirracista no mundo globalizado pelo neoliberalismo. Não lhe escapa uma visão dos acontecimentos em escala nacional e internacional mais recentes tais como a 3ª Conferência Mundial da ONU contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, organizada em Durban, na África do Sul, em agosto/setembro de 2001; a marcha do Movimento Negro de Brasília, em outubro de 1995, cujo raio de ação incluía a lei 10.639/03 e o debate nacional sobre políticas de ação afirmativa ou cotas ditas raciais.
O conceito de racismo foi equacionado na sua dimensão semântica que inclui não apenas os determinantes biológicos, mas também as variantes socio-históricas e culturais que abarcam outras categorias sociais naturalizadas ou biologiza das como as mulheres e os homossexuais. Neste livro, Martiniano J. Silva transmite não apenas uma visão livres cado assunto. Pois ele leu muito e é bastante atualizado, mas também sua carga emocional. Suas idiossincrasias e sua experiência de vida intransferível como negro e vítima coletiva do racismo, o que o torna distinto e diferenciado dos estudiosos e pesquisadores acadêmicos. Neste sentido, ele acrescenta ao conhecimento acadêmico um saber “negro” indiscutível que enriquece o quadro global do conhecimento sobre as realidades e as questões da população negra no Brasil. O que abre mais horizontes sobre um assunto tão espinhoso no processo da construção da cidadania e da democracia brasileiras.
O “racismo à brasileira” anunciado no título do livro é um racismo sui generis que confere ao Brasil características diferentes dos demais modelos racistas experimentados na história da humanidade e documentados nos livros especializados, como o sistema Jim Crow praticado no Sul dos Estados Unidos antes das leis federais contra o racismo e o apartheid da África do Sul. Oracy Nogueira, em seu clássico Tanto Preto Quanto Branco: estudos de relações raciais (1985), fez uma análise comparativa dos modelos racistas brasileiro e americano,que ele denominou respetivamente de racismo de marca e de origem, sendo o primeiro definido pela fenotipia ou aparência física e o segundo pela pureza de sangue ou genotipia. As características do racismo à brasileira descritas e analisadas por Martiniano podem se somar à análise de Oracy Nogueira para o entendimento da dinâmica social e política dos dois racismos e as dificuldades de luta para combater ambos, respeitando as peculiaridades estruturais e históricas de cada um. A controvérsia que mobiliza e comove as mídias, os setores do governo, os meios intelectuais, as entidades do movimento social negro e a sociedade consciente em geral encontraria parte de explicação nos argumentos e ideias força desta obra.
No contexto que estamos atravessando, pela primeira vez os trabalhos críticos sobre raça e racismo congelados nos livros acadêmicos estão sendo difundidos no tecido social da sociedade através das propostas de uma educação multicultural e inclusiva. Uma nova leitura do Racismo à Brasileira atualizada constitui um grande ganho no processo de conscientização e atualização sobre uma questão da maior importância para o processo de construção de um Brasil democrático e igualitário.
Kabengelê Munanga”
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, UBEGO, mestreem história social pela UFG, professor universitário, articulista do DM – [email protected])
Kabengele Munanga responde a Demétrio Magnoli
Kabengele Munanga-Uma Abordagem Conceitual das Noções de Raça, Racismo, Identidade e Etnia
Kabengele Munanga diz que políticas de cotas podem corrigir quadro gritante de discriminação no Brasil
Carta do ilustríssimo Prof. Kabengele Munanga às/aos Colegas, companheiras e companheiros do CNPIR
Fonte: DM