Fonte: Afropress
S. Paulo – Citando dados de Estudos e Pesquisas – inclusive da mais recente desse tipo realizada pela Fundação Perseu Abramo, em 2003 – o Major e Professor da PM de S. Paulo, Airton Edno Ribeiro, Mestre em Educação das Relações Raciais, traçou um retrato nada abonador da instituição a que pertence, na relação com a população negra: ele disse que a PM continua tratando negros como suspeitos preferenciais.
A exposição do Oficial da PM – um dos poucos oficiais negros da corporação – aconteceu durante a mesa de encerramento do Congresso dos Advogados Afro-Brasileiros em S. Paulo, promovido pela OAB/SP, por meio da Comissão do Negro e Assuntos Anti-Discriminatórios, no Hotel Braston, centro de S. Paulo.
Segundo o Major, que é Mestre em Educação das Relações Raciais e professor do Centro de Aperfeiçoamento de Estudos Superiores da Polícia Militar, a postura discriminatória da PM em relação a negros é evidenciada nas abordagens e revistas. Citou o resultado da pesquisa que, diante da pergunta sobre quem é o suspeito preferencial, obteve como resposta que 51% são negros, contra 15% brancos.
No quesito discriminação anti-negro, a PM também ganha de longe da Polícia Civil: 68% das pessoas ouvidas acusam a PM, e 23% a Polícia Civil. Entre os alvos da abordagem, 78% dos negros foram abordados por policiais brancos; 12% dos brancos revistados foram abordados por policiais negros.
Os estudos, segundo o Major, mostram ainda que 78% das pessoas vítimas de abordagens e revistas não denunciam as práticas e atitudes discriminatórias.
Estereótipos e discriminação
O Major Edno citou também levantamento feito com 50 cabos e soldados da instituição em que estes admitiram que antes de entrarem na PM achavam que havia preconceito contra negros. Depois de entrarem confirmaram o diagnóstico.
O Oficial falou da percepção do policial que faz a revista. De acordo com essa percepção “o destino do negro é ser abordado”; “quem coopera não apanha”, “o policial negro não se sente negro”; “e negros esclarecidos irritam a Polícia”.
Segundo o Major, os números refletem a realidade do racismo na sociedade, também presente na corporação. Ele, contudo, se declara otimista. “Tudo está sendo feito para mudar essa situação”, afirmou, acrescentando não existirem números exatos sobre a qualidade de policiais negros na PM paulista, porém, acredita que deve refletir a presença de negros na população do Estado, que é de cerca de 31%.
“Vamos mudar esse quadro, com informação e sensibilização, e principalmente com a humanização da abordagem policial e isso vem da formação”, concluiu.
Congresso
O Congresso dos Advogados Afro-Brasileiros em S. Paulo reuniu cerca de 300 profissionais – na sua quase totalidade negros no Hotel Braston -, e foi aberto pela manhã pelo presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D’Urso.
Além da exposição do Major Airton Edno, teve a presença do ex-secretário de Justiça e Defesa da Cidadania, Hédio Silva Jr., que falou sobre “Desafios e Perspectivas da Advocacia Afro-Brasileira” e participou e dirigiu os trabalhos durante a exposição do oficial da PM, a quem elogiou pelo brilho da exposição e pela coragem.
Na mesa, falaram ainda a advogada Cláudia Patrícia de Luna Silva, que fez a defesa entusiasmada das cotas para negros, contrapondo-se ao do colega Erick Gavazza Marques, que anteriormente havia se posicionado contrariamente. “Peço licença para ousar discordar do colega para quem, as cotas deveriam ser sociais não raciais. Ocorre que as cotas raciais serão sempre sociais. As cotas sociais nem sempre serão raciais. Nós negros e negros não estamos pedindo favores, nem esmolas da sociedade. Queremos é reparação, o mesmo status quo que foi dado aos não negros”, concluiu.
A delegada Maria Clementina de Souza, a primeira mulher negra a se tornar delegada de Polícia fez um relato de sua trajetória. O também advogado e agora membro da equipe técnica da Secretaria de Relações Institucionais do Governo do Estado, Antonio Carlos Arruda, falou sobre a violência da Polícia, que atinge majoritariamente os negros, e dentre estes, os jovens, e considerou que os números “são alarmantes”.
Segundo ele, em 2003, policiais da PM paulista mataram 624 pessoas. Esses números caíram para 430, em 2.007, porém, em sua opinião continuam muito elevados. “São números de guerra”, enfatizou. A mesa teve ainda a exposição da delegada, Maria Clementina de Souza, a primeira mulher negra a se tornar delegada de polícia, em S. Paulo.
No encerramento, às 20h, o ex-Secretário da Justiça, Hédio Silva Júnior, se disse emocionado pela riqueza das exposições e citou o exemplo de Rosa Parks, a mulher negra que iniciou o Movimento dos Direitos Civis nos EUA.
Marco Antonio Zito Alvarenga , presidente da CONAD, emocionado, chegou às lagrimas ao saudar o sucesso do Congresso, sendo aplaudido de pé. “Foi o melhor que fizemos”, finalizou.
Matéria original: Para major da PM negros continuam suspeitos preferenciais