Práticas Restaurativas

O mundo está em crise e a maior razão é a falta de amor ao próximo. O conflito às vezes é interpessoal, outras vezes grupal e alcança níveis societários. A falta de diálogo gera conflitos na família, nas relações de vizinhos, alcança ambientes educacionais, onde a convivência comunitária deveria aproximar as pessoas, mas também está enfermo. É preciso criar territórios de paz.

Por Siro Darlan Do Jornal do Brasil

O judiciário, já se sabe não pode dar conta de restaurar a paz social diante dessa gama de conflitos que as crises têm multiplicado. É preciso criar espaços comunitários onde a palavra, a memória e as versões oficiais de eventos individuais e coletivos sejam reconstruídas na perspectiva de reencontro com a verdade, a justiça e a reparação de danos. O caminho da pacificação passa necessariamente pela construção de uma cultura para a paz e a reconciliação das pessoas com suas comunidades.

Não acredito na pacificação armada. As experiências são um fracasso. A pacificação se faz pelo processo de perdão e reconciliação. A sociedade precisa perdoar e ser perdoada para se reconciliar com seus cidadãos, aqueles que têm seus direitos fundamentais respeitados e os que têm os direitos violados. Para tanto se faz necessário que as vítimas sejam acolhidas e levadas a perceber a dinâmica e a complexidade da ofensa, e as consequências na vida pessoal, familiar e profissional. As relações afetadas entre agressor e vítima podem ser restauradas quando há uma partilha da dor. Tanto sofre o ofensor quanto o ofendido.

Já na esfera político cultural é preciso propiciar um espaço comunitário para reconstrução moral da ofensa para que haja uma compreensão da ruptura de vários laços de coesão social, patrocinando um trabalho para assunção da responsabilidade visando à reparação dos danos causados em termos éticos e de direito. Com essa finalidade foi criada a Escola do Perdão e da Reconciliação, inicialmente em Bogotá, Colômbia e hoje já está sedimentado em diversos países como Canadá, EUA, Equador, Brasil, Peru, México, Uruguai, Chile, Republica Dominicana, Venezuela, Bolívia, África do Sul e Portugal, já tendo recebido menção honrosa da UNESCO pelo impacto positivo da Educação para a Paz.

Ajudar o indivíduo a desenvolver habilidades necessárias para acolher o conflito, elaborar a raiva, rancor e o ódio, transformando-os e reabilitando-os de forma a recompor o equilíbrio psicoemocional, social e o sentido da vida, interrompendo desse modo o ciclo da violência.

* Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia

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