Salvador – O advogado e professor da Universidade do Estado (UNEB), Sérgio São Bernardo, do PT, quer ser Deputado Estadual na Bahia (Nº 13.310), porque acredita que “a comunidade negra baiana precisa de um projeto político e disputar o poder dentro das estruturas e forças hegemônicas no Estado”.
“É possível pensar a Bahia e sua autonomia sem se ligar ao ideário da modernização conservadora, sem se prender ao mero confronto da herança e ainda assim mudar a política, tansformando-a em instrumento de mudança social e melhoria de vida das pessoas”, acrescenta.
Camelô por 15 anos, líder estudantil, formado em Filosofia e Direito, São Bernardo atuou em Sindicatos de Trabalhadores e foi professor da rede pública de ensino e fez mestrado em Direito pela Universidade de Brasília. Também foi diretor do PROCON-BA e assessor parlamentar de Relações Raciais da bancada do PT.
Confira, na íntegra, mais uma entrevista da série e que faz parte do esforço de Afropress para estimular o voto em candidatos negros e antirracistas a deputados estaduais, federais e senadores, em todo o Brasil nas eleições de 3 outubro. O espaço é aberto a todos candidatos comprometidos com esta agenda, independente de partidos, às 5ªs feiras e aos domingos.
Afropress – Por que é candidato a Deputado Estadual e quais são suas principais propostas se eleito?
Sérgio São Bernardo – Sou candidato porque acredito que a comunidade negra baiana precisa de um projeto político e precisa disputar o poder por dentro das estruturas e forças hegemônicas que estão colocadas.
Acredito que é possível pensar a Bahia e sua autonomia sem se ligar ao ideário da modernização conservadora, sem se prender ao mero confronto da herança e ainda assim mudar a política, transformando-a em instrumento de mudança social e melhoria de vida das pessoas. Porque é possível ser político como profissão na sua dimensão oceânica e continuar sendo humano. Preciso fazer com que meus filhos gostem de política, em sua grandeza humana, sem que eles se dobrem ao bom negócio que é representar alguém.
Proponho fomentar incubadoras de projetos sociais de modo que o empreendedorismo nato da nossa população seja valorizando gerando riqueza para as mãos dos verdadeiros detentores da produção cultural, artística, econômica do Estado da Bahia, nós negros.
Proponho-me também a pensar e atuar num projeto de desenvolvimento com igualdade a partir de uma intervenção estadual que estimule o empreendedorismo dos movimentos sociais na busca por melhores condições de vida, trabalho, segurança, educação, transporte, e saúde para todos e todas. Além de discutir na bancada o fenômeno do consumo como gerador da violência, e defender o direito de ocupar a cidade, a liberdade de manifestação religiosa e o acesso à justiça.
Afropress – Como acompanhou o debate sobre o Estatuto da Igualdade Racial aprovado e qual a sua posição a respeito?
São Bernardo – Defendo que tudo o que está escrito no Estatuto da Igualdade Racial é um produto histórico de construção política do movimento negro e por isto não deve ser rechaçado por nós que fizemos parte desta construção. Hoje muitos dos artigos deste Estatuto já possuem amparo na legislação federal, o que garante alguns direitos como, por exemplo, os direitos dos quilombolas, da saúde da população negra e do ensino da história da África.
Também é verdade que este não é o estatuto que queremos, pelas insuficiências que ele traz, mas é o que lutamos para conseguir, e devemos utilizá-lo como parâmetro para continuar lutando pelas melhorias que pensamos em alcançar.
Afropress – Qual a sua posição em relação às cotas e ações afirmativas e se considera necessário o aperfeiçoamento do Estatuto aprovado e recém-sancionado pelo Presidente da República?
São Bernardo – Minha posição sobre as cotas e ações afirmativas é de total aprovação da necessidade de implementação destas políticas como alternativa de justiça social, embora elas tenham um conteúdo liberal. Penso que o Estatuto deve ser aperfeiçoado no sentido de possibilitar a garantia do efetivo resultado de inclusão social e oferta de oportunidade para compensar o déficit histórico de exclusão dos negros e negras do mercado de trabalho, assim como, reparar os danos da política econômica escravocrata a qual o Brasil se beneficiou ao longo dos últimos séculos.
Afropress – Como se posiciona em relação aos assassinatos de jovens negros nas periferias das cidades brasileiras pela Polícia Militar?
São Bernardo – Alguns programas de governo para área de segurança, a exemplo do Pronasci, são bastante criticados pelo movimento negro, e com razão. Isso porque o que vemos nestes programas de segurança pública é a falta de medidas preventivas e a falta de ações articuladas com outras áreas que envolvem diretamente o problema, como infra-estrutura, educação, habitação e moradia, emprego e renda.
A comunidade já não acredita mais na medida ostensiva e combativa que a polícia utiliza porque está vendo seus familiares e amigos serem exterminados. Os assassinatos dos jovens negros e negras fazem parte de uma estratégia de genocídio da população negra que nos remete aos tempos da limpeza étnica racial da Revolta da Vacina.
Afropress – Fale um pouco de sua trajetória pessoal e política e na importância da eleição de candidatos negros e anti-racistas nestas eleições.
S. Bernardo – Minha trajetória de vida pessoal e política traz grandes marcas de luta e superação pessoal.
Fui camelô por 15 anos, líder estudantil, sou formado em Filosofia e Direito, atuei em sindicatos, exerci o ofício de professor da rede pública de ensino, trabalhei na Assessoria Parlamentar de Relações Raciais da Bancada do PT e fiz Mestrado em Direito na UnB, dirigi o PROCON-BA, fundei e presidi a ONG Pedra de Raio – Justiça Cidadã, que desenvolve ações de promoção e defesa dos direitos humanos, além de popularização do conhecimento jurídico.
Hoje sou, além de advogado, professor da Universidade Estadual da Bahia do curso de Direito, e recentemente fui coordenador do Programa Estadual Bolsa Família na Bahia.
Penso que é importante termos candidatos negros e anti-racistas nestas eleições porque temos que ser parte estratégica do debate científico e do debate econômico. Cada um de nós é protagonista e empreendedor de nossa própria história e dos espaços que ocupamos. Mulheres, homens, idosos, jovens.
Temos que tomar na mão o nosso destino, construir os nossos projetos, integrar as nossas vontades e fazer valer nossa capacidade para um novo processo de desenvolvimento em nosso Estado.
Fonte: Afropress