Quanto a perseguição a Lula pesou no AVC de Dona Marisa Letícia? Por Nathali Macedo

Ler os comentários nas notícias dos grandes portais conservadores na internet é a maneira mais rápida e eficiente de se perder a fé na humanidade.

Por Nathali Macedo, do DCM

Abaixo das notícias sobre o estado de saúde de Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula, por exemplo, há de tudo: desde sinceros votos de uma morte lenta e dolorosa para uma mulher de 66 anos internada na UTI, até um “só acredito dando um tapa na cara dela pra constatar.”

O mais curioso é que essas pessoas que se ocupam em desejar os mais horrendos destinos à Dona Marisa – e a quem quer que seja de alguma maneira ligado ao PT ou aos comunistas (?) – se auto-intitulam “cidadãos de bem”.

No Brasil, cidadãos de bem são aqueles que concordam com a pena de morte, a redução da maioridade penal e violência contra senhoras de 66 anos. São os que acreditam que o erro da ditadura foi torturar e não matar. Os conservadores cristãos, defensores da moral e dos bons costumes só procuram uma maneira qualquer de externalizar o ódio que já não cabe em si. É típico dos conservadores brasileiros não discutir política, porque não sabem fazê-lo, e limitar-se a espalhar ódio e mentiras.

“Roubaram tanto, que gastem no Sírio Libanês”, eles insistem. Qualquer evento, mesmo os que envolvem mortes, AVC’s ou o fim do mundo, é uma oportunidade para que os cientistas políticos de redes sociais sucumbam ao mesmo argumento de sempre: a culpa é de Lula.

A culpa pelo quê?

Para os insanos perseguidores, isso é o que menos importa.

Há dois tipos de pessoa: as que perseguem-no ferozmente, com seus respectivos ódios devidamente alimentados pela Rede Globo e as que, por empatia ou gratidão, o amam.

As pessoas do primeiro grupo não desejam apenas que ele seja derrotado politicamente, desejam que morra em um desastre aéreo antes de 2018 ou que perca os outro nove dedos. O ódio e a perseguição são tão concretos que foram dignos de uma nomenclatura própria e tudo: anti-lulismo.

O pior é que o ódio não fica no campo do desejo: se transfigura em ações, como o circo da condução coercitiva ordenada por Moro e festejada na mídia em 2016.

Pergunta-se: qual a responsabilidade dos anti-lulistas sobre a saúde de Dona Marisa? O quanto anti-petistas e os golpistas e os donos dos carros da Presidenta legítima com as pernas abertas devem se sentir responsáveis por seu estado de saúde? Quanto todos eles devem nessa conta?

Não importa. Ninguém liga. Humanidade é coisa de petralha.

O antipetismo é o Coliseu moderno: gente de bem, entediada, esperando o bom combate – de preferência com doenças e mortes macabras em aviões – para dar uma animada na vida.

Eu, que não me intitulo cidadã de bem – na atual conjuntura, trata-se de uma terminologia, digamos, perigosa – expresso à Dona Marisa os mais sinceros votos de boa recuperação. Expressaria-os, acreditem, mesmo se ela fosse casada com Serra.

Humanidade é – ou deveria ser – uma virtude apartidária.

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