Dorival, 100 anos de Caymmi

por Luciano Hortencio e Lourdes Nassif

Em um 30 de abril, pelos idos de 1914, a terra boa Salvador recebeu seu filho dileto. Nasce Dorival, sempre Caymmi, que passeou pelas artes desde o primeiro chorar para o mundo. Dorival cantou, compôs, tocou dolente um violão, pintou e atuou. Tudo junto e reunido na maior concentração de arte em um único vivente. E no viver do povo baiano, se inspirou. E na música negra, passeou tons e imagens memoráveis. E no juntar de tantas inspirações, criou um estilo próprio, um novo cantar.

Dorival, filho de Durval e Aurelina, casou com Adelaide Tostes, a cantora Stella Maris. De tão musical união, nascem três novos músicos: Dori, Danilo e Nana.

Uma pitada de sangue italiano no frigir da história familiar. O bisavô paterno veio da Itália para trabalhar no reparo do Elevador Lacerda. A música veio cedo, com o pai funcionário público e amador na música, que tocava piano, violão e bandolim. A mãe, mestiça de portugueses e africanos, cantava.

Filho de Durval Henrique Caymmi e Aurelina Soares Caymmi, era casado com Adelaide Tostes, A cantora Stella Maris. Todos os seus três filhos também são cantores: Dori Caymmi, Danilo Caymmi e Nana Caymmi. O menino cresceu, o fonógrafo era amigo e incendiou a vontade de compor. Cantava ele. Cantava ao lado do fonógrafo, no coro da igreja. Aos treze anos começa a trabalhar, interrompendo os estudos. Vai para uma redação de jornal, O Imparcial, como auxiliar. No fechar do jornal, tornou-se um vendedor de bebidas.

A primeira música, “No Sertão”, chega em 1930, e aos 20 anos estréia como cantor e violonista em programas da Rádio Clube da Bahia. Em 1935 o nome está feito, e passa a apresentar o musical Caymmi e suas Canções Praieiras.

Chega 1938. No Ita, Dorival vai para o Rio de Janeiro tentar emprego como jornalista e fazer o preparatório de Direito. Fez alguns poucos trabalhos, em O Jornal, do grupo Diários Associados. Mas a música não mais o deixou, continuando a compor e a cantar. Nesta época conheceu Carlos Lacerda e Samuel Wainer.

Em Junho de 1938 estreou na rádio, cantando duas canções. Como calouro saiu-se bem e dali passou a cantar dois dias por semana. Desta participação a interpretação de “O que é que a Baiana tem?” junta-se a Carmen Miranda. A música virou a própria Carmen, que fez uma carreira no exterior depois de interpretá-la no filme Banana da Terra.

E na malemolência do ficar e partir, do juntar e desunir, Dorival virou filho da terra, Terra Brasil, com suas canções entoadas de norte a sul, leste a oeste, além de nossas fronteiras, no doce balanço do mar da poesia. Um lamento, outro, uma canção, mais uma, povoando a história de nossa música.

Em 16 de agosto de 2008 os sons se movem em direção da memória, e morre Dorival, filho de uma terra pródiga.








 

 

Fonte: Jornal GGN

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