Nova sessão de tortura da polícia da Bahia acaba na morte de jovem de 16 anos

Corregedoria investiga ação policial contra adolescente que morreu dias depois com lesão na traqueia

Por MARÍA MARTÍN, do El Pais 

No último 27 de abril, Inácio de Jesus, um adolescente baiano de 16 anos ainda com rosto de menino, voltava do almoço em direção ao lava jato do tio, onde trabalhava por 100 reais por semana. No caminho, na garupa da moto de um amigo, foi parado por uma viatura com três policiais militares, mas não foi conduzido à delegacia. Os agentes levaram os garotos para um matagal, no entorno do presídio Lauro de Freitas, no bairro de Itinga, a 40 minutos de carro da turística Salvador. Foi ali, no meio do nada, onde o GPS da viatura parou de funcionar e onde, segundo a denúncia que está sendo investigada, Inácio foi torturado durante horas.

Os detalhes das agressões vieram do próprio adolescente que descreveu a sessão de tortura ao chegar em casa. Ele, segundo esse relato, hoje contado entre lágrimas pela mãe, sofreu várias tentativas de asfixia com uma sacola plástica, recebeu golpes no corpo todo sem deixar marcas externas e foi desafiado a escolher entre um pau fino e outro mais grosso para ser abusado pelos policiais.

Após o violento interrogatório, Inácio e seu amigo tampouco foram levados à delegacia. Mais uma viatura somou-se à ação policial e acompanhou os jovens até suas casas. Procuravam, sem mandado judicial, armas e drogas que, segundo seus familiares, não tinham. Os agentes, porém, disseram ter achado uma pistola e com ela pegaram Inácio para levá-lo, quatro horas depois da abordagem, até a delegacia. Algemado a uma barra de ferro e obrigado a ficar de pé, Inácio, menor de idade, passou a noite preso.

Liberado no dia seguinte, o adolescente, que estudava no turno da noite, relatou à mãe, uma desempregada de 35 anos, sua primeira passagem policial. O relato foi complementado pelo amigo que sobreviveu às agressões. “O menino andava torto, tinha as pernas inchadas de ter passado a noite inteira de pé, e dois dias depois começou a passar mal, estava com falta de ar. Levei-o ao médico”, lembra a mãe. No primeiro atendimento em um posto de saúde, Inácio recebeu remédio e foi dispensado, mas nos dias seguintes não conseguia respirar. Em 2 de maio ele foi internado em um hospital e morreu quatro dias depois.

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