A arte que forjou a identidade afroamericana

Uma exposição em Paris analisa o papel que pintura, fotografia e cinema desempenharam no combate por seus direitos dos descendentes de escravos

Por ÁLEX VICENTE, do El Pais 

Qual foi o papel da arte na batalha que os descendentes de escravos travaram nos tempos da Estados Unidos? Uma exposição no Museu do Quai Branly de Paris, especializado em arte primitiva e antropologia, se esforça para responder com esmero a essa pergunta. A mostra analisa a importância que disciplinas como a pintura, a escultura, a fotografia e o cinema tiveram na luta por reafirmar uma identidade afro-americana. O nome da exposição é The Color Line, em referência à famosa expressão sobre a segregação inventada pelo líder negro Frederick Douglass em 1881. Duas décadas mais tarde, outro pioneiro na luta pela emancipação, W. E. B. Du Bois, formulou esse prognóstico: “O problema da linha da cor será o problema do século XX”. A exposição demonstra que ele não errou.

Na entrada da mostra está a bandeira norte-americana. Lá estão as estrelas e listras, mesmo que as cores não sejam as mesmas de costume. O valorizado artista David Hammons as pintou com os tons do pan-africanismo – vermelho, negro e verde –, que durante os anos sessenta foram um símbolo da luta pela emancipação. Algumas salas adiante aparecem postais que, no começo do século passado, serviam para mostrar os linchamentos de negros nos Estados sulistas. Um deles reproduz o corpo carbonizado de William Stanley, queimado vivo no Texas de 1915. No verso, um remetente chamado Joe relata a cena aos seus pais: “Esse é churrasco que fizemos ontem à noite”.

A mostra oscila entre esses dois extremos para demonstrar que a arte afro-americana nasceu como reação aos ataques racistas. Através de 600 pinturas, esculturas, fotografias, cartazes, fragmentos de filmes e outros documentos, a exposição percorre o período que começa com o final da Guerra de Secessão, em 1865, e termina com a aprovação, um século depois, da lei de direitos civis de 1964, que acabou com a segregação que proibia que brancos e negros ficassem juntos em escolas e hospitais, nas fileiras do Exército e até mesmo nas calçadas de qualquer cidade. A mostra assinala que esses avanços nem sempre tiveram o resultado esperado. “A história dos afro-americanos é uma longa sucessão de desilusões. Ao final da guerra, a proibição da escravidão não trouxe mais igualdade, mas uma segregação escorada em leis que deixaram os negros em uma posição subalterna durante décadas”, explica o curador da mostra, Daniel Soutif.

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