Estudante que sonha cursar Medicina mostra rascunho de redação nota mil do Enem: ‘fugir do senso comum faz diferença’

No texto, Carina Moura, de 18 anos, recordou a primeira fase do Romantismo brasileiro e citou o sociólogo Boaventura de Sousa Santos e a filósofa Sueli Carneiro

A estudante Carina Moura, de 18 anos, saiu do primeiro dia de prova do Enem confiante. Ela sabia que tinha feito uma boa redação, mas não esperava que nesta quinta-feira (9) — quando os resultados foram divulgados pelo Inep — estaria entre os alunos nota mil. Com um sorriso no rosto, a jovem conta que agora se sente mais confiante numa aprovação logo na primeira tentativa para o curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

— Era o meu sonho gabaritar, mas eu achava algo utópico mesmo tendo amado o tema e sabendo que tinha escrito bem, por ter facilidade com redação. Meu problema era falta de repertório e eu corri atrás para aprender, fazendo duas redações por semana. Fugir do senso comum faz diferença. Agora é rezar pela aprovação final em Medicina — comemora a estudante.

Moradora de Frei Miguelinho, município pernambucano com cerca de 15 mil habitantes, Carina acredita que o seu diferencial foi ter citado grandes personalidades no desenvolvimento do texto e boas propostas de intervenção, requisitos obrigatórios no estilo dissertativo-argumentativo do Enem. No ano passado, o tema sorteado para os vestibulandos foi “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”.

Rascunho da redação da estudante Carina Moura, de 18 anos, que sonha em estudar Medicina na UFPE (Foto: Arquivo Pessoal)

Na introdução, a estudante recordou a primeira fase do Romantismo brasileiro, período que foi marcado por um forte sentimento de busca de identidade nacional, com a exaltação dos povos tradicionais — o que se encaixou perfeitamente ao tema. Nos dois parágrafos de desenvolvimento, ela falou sobre a negligência governamental e sobre a não valorização da cultura e saberes do Brasil, parafraseando o sociólogo Boaventura de Sousa Santos e a filósofa Sueli Carneiro.

Por fim, na conclusão, Carina apontou a necessidade de o Governo Federal ampliar a verba para essas pessoas e comunidades, incentivar projetos e palestras de conscientização e priorizar a fiscalização de territórios para garantir que os direitos sejam respeitados.

— Na redação, não precisávamos falar de cada povo e comunidade. Dava para fazer a partir de uma abrangência total e citar os principais problemas que eles enfrentam. Algo legal que citei foi o epistemicídio, um termo criado pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos para explicar o processo de invisibilização de povos tradicionais em detrimento da cultura e saberes europeus. A banca gosta de ler algo original e por isso é importante fugir de conceitos que sempre são falados — explica Carina, reconhecendo que, infelizmente, nem todo mundo tem a chance de ter acesso a essa bagagem de conhecimento.

Apesar de achar que não foi tão bem em Ciências da Natureza, área com grande peso para o curso de Medicina, a jovem está esperançosa e confiante que será a mais nova caloura da UFPE.

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