Morrer é o destino igualitário e inexorável do ser humano

Por: Fátima Oliveira

O 2 de novembro, Dia de Finados, é data universal para relembrar quem já morreu, os que deixaram alívio e os que deixaram saudades, originada no século X, no ano de 988, no mosteiro beneditino de Cluny, na França, quando um abade determinou que os monges rezassem pelos mortos, sobretudo os esquecidos.

Supõe-se que foi o encontro da cultura cristã com a celta que deu origem ao Dia de Finados. Os celtas celebravam o Samhain baseados na crença de que, na data, o mundo dos vivos se aproximava do mundo dos mortos, gerando um momento apropriado “para homenagear os ancestrais de forma alegre e festiva”.

No século XIII, a tradição de rezar pelos mortos foi oficializada e passou a ser o dia seguinte ao de Todos os Santos, o dia 1º de novembro. A data diz muito de como a morte e o morrer são culturalmente entendidos pelos diferentes povos, isto é, como a finitude da vida é compreendida, já que morrer é parte natural da vida, que é finita.

Se no Brasil é um dia no qual as pessoas católicas visitam, melancolicamente, os cemitérios, levam flores, acendem velas, “tiram” terços e outras rezas, na Guatemala as pipas (papagaios) adornam os céus, representando um ser amado que se foi; e no Haiti, na véspera do Dia de Finados, os toques de tambores durante a noite ecoam perto dos cemitérios com a finalidade de acordar o Senhor dos mortos, Deus!

No norte da Romênia, em Sapanta, distrito de Maramures, fica o Cemitério Feliz da Transilvânia ou Cemitério Alegre de Sapanta, “um local colorido e feliz. A felicidade atribuída ao lugar é percebida pelas cores fortes que compõem as pinturas que representam os falecidos. O povo tem por costume relatar a vida do parente que morreu por meio de imagens coloridas e poesias. O costume teve início com Ioan Stan Patras em 1935. De acordo com Christine Popp, do ‘The New York Times’, todos os membros da comunidade são mantidos vivos por meio das pinturas e dos epitáfios” (Érika Rodrigues, in: “Cemitério Alegre em Sapanta, Romênia”).

A celebração mexicana do Dia dos Mortos foi declarada patrimônio cultural da humanidade pela Unesco por causa da beleza que expressa pelos seus mortos. É que no México celebrar os mortos data de mais de 3.000 anos antes da era cristã, e no Dia dos Mortos as festividades duram três dias – de 31 de outubro a 2 de novembro –, com uma peculiaridade ímpar: as casas e as ruas são enfeitadas com bandeirinhas de papel de seda e com máscaras, sobretudo de caveiras, que representam os ancestrais; há desfile de máscaras e alegorias; igrejas e cemitérios são decorados; e cada família prepara suas oferendas de comidas e de bebidas preferidas dos seus mortos…

Maria Teresa Toribio Brittes Lemos declarou, em “A Doce Vida dos Mortos”, que “o Dia de Finados é uma tradição antiquíssima e muito popular no México. O motivo é nobre: trazer parentes falecidos para o convívio familiar”. Acreditam tanto que roupas e sapatos novos são comprados para os mortos! Na cultura mexicana, a morte não é o fim de uma pessoa, apenas “uma transição da vida para outro mundo ou para um espaço, ou mesmo uma nova dimensão, que imaginavam existir para essa finalidade”.

A minha relação com meus mortos é de muita deferência. Já enterrei pai, avô paterno, avô e avó maternos, um marido e, recentemente, em maio passado, a mamãe. O sentimento é que não prosearei mais com eles, já que eram pessoas que amavam uma boa prosa, o que dá muita saudade, mas não revolta. Eu compreendo que somos programados para morrer!

Fonte: O Tempo

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