“Sofri um assassinato moral, perdi tudo”, conta vítima de cyber vingança

Rose Leonel teve a vida destruída após o ex-namorado vendê-la como prostituta na internet; ele foi condenado em 2012

Por Carolina Garcia , iG São Paulo

Quase dez anos depois de um fim de um relacionamento, a jornalista Rose Leonel ainda sofre as consequências da vingança que sofreu do ex. Inconformado com o fim do namoro de quatro anos, Eduardo Gonçalves Dias publicou fotos íntimas de Rose em janeiro de 2006. Ele anunciava a jornalista como garota de programa e colocava os telefones pessoais – inclusive dos filhos dela – para contato. Hoje, Rose transformou o trauma em bandeira com a fundação da ONG Marias da Internet, que oferece apoio a vítimas do cyberbullying.

“Quando terminamos, em outubro de 2005, ele me ameaçou e disse que se eu não ficasse com ele, destruiria a minha vida. Não imaginei como seria essa destruição”, explica em entrevista ao iG durante o 2º fórum Fale sem Medo do Instituto Avon, realizado nesta quarta-feira (3) na zona sul de São Paulo. Rose compartilhou o seu depoimento na ocasião.

A jornalista conta que vivia uma relação saudável, com algumas brigas, como “todo casal”. Um dia “como voto de confiança”, eles trocaram as senhas de e-mail. Com essa informação, após o término e ameaça do ex, Rose passou a monitorar o e-mail de Dias até que encontrou uma negociação com um técnico de informática.

“Na conversa, o técnico cobrava R$ 1 mil para expor minhas fotos na web. Ele aceitou e saí desesperada da minha casa”. Rose procurou um advogado, mas não conseguiu uma intervenção “para um crime que não tinha acontecido ainda”.

O pesadelo viria três meses depois com a exposição primeiro lote de fotos de um ensaio sensual, que só topou fazer após uma insistência do parceiro. Ela garante que o ex defendia as fotos como uma verdadeira prova de amor. Por isso, ela topou.

“Sofri um assassinato moral e psicológico, perdi tudo. Vi a vida dos meus filhos desabando. Meus telefones não paravam de tocar. A cada dez dias ele disparava uma leva de fotos para 15 mil e-mails da região e imprimiu centenas de panfletos para distribuir no comércio. Foi uma campanha contra mim”.

As primeiras consequências vieram dias depois com a demissão de Rose, que trabalhava como colunista social em um jornal de Maringá, no Paraná. E um dos filhos, de 11 anos, constrangido com a exposição da mãe, decidiu passar uma temporada no Exterior. Em 2012, Dias foi então condenado a um ano e 11 meses de prisão, além de R$ 30 mil de indenização.

Carolina Garcia / iG São Paulo Rose transformou o trauma em bandeira com a fundação da ONG Marias da Internet
Carolina Garcia / iG São Paulo
Rose transformou o trauma em bandeira com a fundação da ONG Marias da Internet

“Foi uma pena irrisória. Nenhum valor irá cobrir o dano que ele me causou. Esse é o problema da internet, não podemos dimensionar os seus estragos”. Estima-se que as fotos de Rose foram expostas em mais de sete milhões de sites com conteúdo pornográfico.

Como uma espécie de “serviço terapêutico”, a profissional criou no início deste ano a ONG Marias da Internet e hoje se tornou um símbolo de combate a crimes virtuais. “Ninguém está pronto para ser vítima de internet. Esse tipo de crime também deve ser enquadrado como crime hediondo. E isso só vai acontecer quando algum legislador passar por isso”, defende.

Segundo Rose, é assustador o número de meninas a partir de 14 e 15 anos que sofrem esse tipo de violência e procuram a sua ONG. “Muitas estão sozinhas porque têm vergonha de expor o que aconteceu aos pais”.

 

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