Chacinas ainda nos mancharão por muito tempo

Esta semana completam-se 22 anos da Chacina da Candelária, 25 anos da chacina de Acari e, no próximo mês, é a vez de lembrarmos Vigário Geral. É muito estranho fazer essa rememoração e perceber que pouquíssima coisa mudou na forma como nossa sociedade lida com estas tragédias.

Por Mônica Francisco Do Jornal do Brasil

É assustador, e ao mesmo tempo desesperador até. perceber que os números de tais eventos só se acumulam. Hoje, enquanto escrevo esta coluna, lembro-me da chacina ocorrida no norte do país, em que 35 pessoas foram assassinadas e o número poderia ser maior, não fossem as quatro pessoas que sobreviveram.

O motivo, coincidentemente, a morte de um policial no dia anterior à chacina, foi o estopim dos acontecimentos. Realmente, a fórmula é a mesma e a cada vez assistimos a inércia da sociedade brasileira e suas instituições.

A reprodução nas relações cotidianas, das formas de violência, pelo dito cidadão comum, são uma prova de que algo vai muito mal na sociedade brasileira.

Mostra-se total da refratariedade em relação a qualquer argumento bem elaborado e por vezes(na maioria delas), com aval científico, que ações como a redução da maioridade penal, ou controle sistemático de populações civis por órgãos militares, não reduzem de maneira nenhuma a violência. Pode servir como atenuante ou paliativo por um tempo, causando sensação coletiva de paz, ordem  e tranquilidade, mas a longo prazo isso não se sustenta.

Não nos sentimos representados no Congresso, e de lá jorram propostas que demonstram o quento estamos longe da realidade daqueles que se propõem representantes de uma população de maioria negra, jovem e feminina.

Segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 63% das vítimas de violência, são crianças ou adolescentes. Na maioria dos casos, vítimas de armas de fogo.

Me torno repetitiva, mas  a máxima de Betinho é muito concreta para mim. Ser um beija-flor no meio de um incêndio, pelo menos serve para dormir com a certeza de que a indiferença ainda não nos contaminou.

Como é possível cobrar decência, transparência e justiça, quando nas situações mais corriqueiras, utilizamos a velha desculpa da inoperância das instituições para justificar linchamentos e colocações como a do relator da redução da maioridade penal na Câmara, o deputado federal Laerte Bessa. Sua declaração dizendo que futuramente poderemos sustar a vida de bebês que sejam detectados com tendências ao crime, ainda no útero materno, beiraria o ridículo ou absurdo, em outros tempos. Mas mesmo mediante a constatação de que as maiores vítimas de nossa sociedade são crianças  e adolescentes em situação vulnerável (negros e pobres), as atitudes se mantêm as mesmas, não há o que pensar, senão que, chacinas ainda nos mancharão por muito tempo.

Triste constatação!.

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL,ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!”

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