‘Obama de Volgogrado’ poderá ser 1º africano a ocupar cargo local na Rússia

Fonte: G1

Russo-guineano concorre às eleições municipais neste domingo.
“Sou um idealista igual a Obama”, diz Joaquim Crima.

 

“Sou negro por fora e russo por dentro”, afirma Joaquim Crima, um russo-guineano que ficou famoso por se candidatar às eleições municipais realizadas neste domingo, 11 de outubro, e que, se for eleito, seria o primeiro africano a ocupar um cargo local no país.

 

“Emigrar? Nunca. A Rússia é a minha pátria. Falo, atuo e penso como um russo”, assegura Crima, de 37 anos, que chegou ao país para estudar, em 1989, às vésperas da queda do Muro de Berlim, e acabou ficando na Rússia para sempre.

Joaquim Crima conversa com uma potencial eleitoral em Srednyaya Akhtuba (Foto: Benoit Finck / AFP)


Admirador do primeiro astronauta da história a viajar ao espaço, o soviético Yuri Gagarin, Crima chegou à Universidade de Volgogrado com a mala cheia de esperanças, mas o racismo e a discriminação, então emergentes na sociedade russa, o despertaram do sonho.

 

A Rússia não era o que pode ser chamado de paraíso na Terra, como alegavam os militares soviéticos que ajudaram a Guiné-Bissau a conquistar sua independência de Portugal, em 1974.

 

Atualmente, Crima é cidadão russo de pleno direito, casado com uma armena, tem um filho de 10 anos e vive na região de Volgogrado como vendedor de melancias e melões.

 

Crima se candidatou às eleições locais “para mudar as coisas”, segundo ele, e, por isso, ficou conhecido tanto na Rússia quanto no exterior como o “Obama de Volgogrado”, em alusão ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que utilizou o lema da mudança em sua campanha eleitoral.

 

“Sou um idealista igual a Obama”, reconhece. Nunca na história um africano ocupou um cargo na administração pública no país, mas isso não o amedronta.

 

“Chegou a hora de reagir. Quero mudar a mentalidade de meus compatriotas e mostrar ao mundo que nem todos os russos são racistas. Na Rússia há lugar para todos”, ressalta, em um russo sem sotaque.

 

Se for eleito, assegurou que enviará os jovens do distrito para estudar no exterior, para que conheçam outros países e depois retornem para contribuir, com a “mente aberta”, com o progresso da região.

 

Para ganhar votos, Crima demonstra que é um pragmático. O lema de sua campanha é “trabalhar como um negro”, segundo ele, rindo. Em sua opinião, esta é a única forma de combater o racismo é “colocar aqueles que sofrem com ele em evidência”.

 

Crima é membro do partido Rússia Unida (RU) e admirador confesso do ex-presidente e atual primeiro-ministro, Vladimir Putin. “Ele fez muito por este país. Nos anos 90 havia longas filas para comprar um pouco de pão ou carne. Isso acabou”, disse.

 

“Se há direita e esquerda, eu sou de centro”, afirma o candidato, que acredita que pode tirar coisas boas de Putin e de Obama.

 

A princípio, confessa que muitos de seus concidadãos não o levaram a sério e que, inclusive, tentaram suborná-lo para que mudasse de opinião, mas “agora, as coisas mudaram”.

 

Contudo, não será fácil, já que, apesar de Crima ser membro do RU, o partido do Kremlin apoia abertamente outro candidato.

 

Às vésperas do pleito, Crima denunciou pressões por parte de representantes regionais da RU para que abandonasse a corrida eleitoral.

 

“Pediram-me que retirasse minha candidatura. Se eu renunciasse, o povo não entenderia, me acusariam de traição. Por isso, irei até o final”, disse Crima, que tem 6% das intenções de voto, segundo as pesquisas.

 

Entre os sete candidatos a chefe de distrito há mais um de origem africana: Filipp Kondratyev, de pai ganês e mãe russa, que trabalha para uma construtora local.

 

Embora isso possa roubar votos, Crima acredita que “é melhor assim”. “Isso demonstra que me levam a sério. Gosto de desafios, quanto mais difícil, melhor”, assegura.

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