Estatuto da Igualdade Racial divide opinião de empresariado

 

Uma das medidas apontadas pela diretora da Bandeirantes para minimizar a desigualdade é incentivo na educação e a abordagem do tema cedo nas escolas da rede de ensino público e privado. “As empresas precisam ter compromisso com o social e com as causas humanitárias. Não é generalizado, mas ainda hoje os negros formam boa parte de trabalhadores sem carteira assinada, em alguns segmentos possuem uma maior jornada de trabalho e são remunerados com inferioridade, conseqüentemente menos protegidos pelo sistema previdenciário”, ressalta Marília.
Para a diretora de planejamento da MartPet, Jussara Pettini, a equidade racial deve ser vista como uma porta para o desenvolvimento humano e econômico do Brasil. De acordo Jussara, existe uma evolução na inclusão dos negros, mas ainda há muito que fazer. “Gostei das decisões do Estatuto, é preciso que todos coloquem em prática, aprofundando a discussão para surgirem as oportunidades. A empresa vai fomentar, incentivar políticas sociais, porém sem segregar”, comenta.
O empresário pernambucano, João Freitas, considera as políticas para inclusão dos negros essenciais para o desenvolvimento social. “Os negros foram historicamente desfavorecidos por séculos de escravidão e depois por uma abolição sem qualquer política pública de integração social ou de combate à discriminação, embora tenha ocorrido recentemente. Não há como reduzir tamanha desigualdade sem ações afirmativas do Estado e também da iniciativa privada”, diz.
Nas empresas em que atuou sempre repudiou qualquer tipo de discriminação, mas não chegou a formular uma política consistente para promover igualdade racial. “Nunca foi feito um programa específico para negro nas empresas. Tínhamos programas de oportunidades para todos, onde além de oferecer aos seus empregados toda e qualquer vaga que surgia, incentivava a educação e formação profissional através de bolsas de estudos. As pessoas tinham oportunidade de participar de grupos de melhoria de qualidade e de ação social, que traziam crescimento profissional e oportunidade de participar dos resultados.”
Para o empresário, não adianta somente combater a discriminação é preciso que as empresas se conscientizem que há um banco enorme de talentos que estão ocultos pela falta de oportunidade. “É hora de despertar para a necessidade de investir na população negra, descobrindo talentos, promovendo sua formação e criando para eles as oportunidades profissionais. Programas de trainees com cotas para negros já têm sido implementados por grandes corporações com sucesso comprovado”, ressalta.
Para Kilsa Rocha, superintendente da Fundação da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Recife, as políticas afirmativas têm como objetivos reconhecer as diversidades e diminuiras distâncias socioeconômicas que permeiam a sociedade. “O direito a igualdade deve ser complementado pelo direito de usufruir de medidas que são projetadas para garantir a toda a sociedade participação, inserção e autonomia”, diz.
Quando se trata de processos de seleção para funções internas, a Fundação CDL não possui um sistema de inclusão para negros ou apoio a minorias dentro da instituição. Na hora da contratação é construído um perfil de colaborador para o cargo e as prioridades são a capacidade técnica e de relacionamento pessoal. “Na Fundação, temos brancos e negros em posições de coordenação ou em qualquer outra função. Não adotamos cotas nem temos programas internos de inclusão de minorias. No entanto, vale à pena pensar em ações que levem esse tema para reflexão no setor do comércio”, explica.
O Estatuto não é considerado o ideal, mas sua aprovação foi um ganho para o movimento negro brasileiro. A medida não tem o intuito de segregar e sim dá oportunidades às pessoas que foram historicamente excluídas do processo de distribuição de recursos produzidos pela sociedade. Para contribuir com luta pela igualdade racial, o governo e a iniciativa privada brasileira e pernambucana precisam formular ações afirmativas com urgência. Muitas empresas defendem a inclusão do negro no mercado de trabalho, mas de fato ainda são poucas as ações concretas voltadas para eles.

A retirada dos incentivos fiscais para empresas que possuam cota para negros é uma medida voltada para a reflexão do empresariado no seu papel voluntário na inclusão racial. A abertura de emprego para a população negra e a contribuição dele para o crescimento econômico do país depende do surgimento e fornecimento de oportunidades, atividades que não são exclusivas do governo, mas da responsabilidade social da iniciativa privada.

Fonte: Instituto Ação Empresarial pela Cidadania

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