O rapper 50 Cent lança biografia com tons de autoajuda

O bairro de Southside Queens, em Nova York, era um playground às avessas: as crianças não eram poupadas de um jogo violento que envolvia traficantes, cafetões e prostitutas. A lei do tráfico. O menino Curtis James Jackson cresceu em um ambiente um tanto quanto cinematográfico – uma terra de ninguém, habitada por tipos marginais que poderiam ter saído de filmes de Martin Scorsese e Spike Lee. Não chegou a conhecer o pai. A mãe foi assassinada quando ele tinha 8 anos. Aos 11, trocou os estudos pelo comércio de drogas. Malhou os músculos, entrou para a bandidagem, foi preso e, aos 20, decidiu largar tudo para se dedicar à música. Afiou as rimas – quatro anos depois, no entanto, foi atingido por nove tiros em plena luz do dia. A saga de 50 Cent começou a ser escrita assim: a sangue.

Na emboscada, uma das balas atingiu a mandíbula do rapper. Mas Curtis, um sobrevivente desde criancinha, converteu o trauma em inspiração. Desde aquele maio de 2000, ele exorcizou o incidente de diversas formas: em discos como The massacre (2005), no filme Fique rico ou morra tentando (de 2005, dirigido por Jim Sheridan, de Meu pé esquerdo), em centenas de entrevistas e videoclipes. É uma cena que o persegue desde então – e que ajudou a construir a imagem de um astro indestrutível, capaz de sobreviver a todo tipo de ameaça. O livro A 50ª lei, lançado no Brasil pela editora Rocco, chega para reforçar essa persona. Mas numa embalagem curiosa: não se trata exatamente de uma biografia, mas de uma obra que, com tons de autoajuda, tenta desvendar o “segredo” da celebridade.

O escritor Robert Greene, de Los Angeles, é o responsável por decifrar a psiquê do astro. Formado em estudos clássicos e ex-editor da revista Esquire, Greene escreveu livros como As 48 leis do poder, em que vende fórmulas de liderança inspiradas no exemplo de personalidades como Casanova e Maquiavel. O encontro entre o autor e o rapper rende uma obra que explica didaticamente (com todas as hipérboles a que tem direito) a origem de um fenômeno musical. O aspecto irônico do lançamento é que insufla um cantor que, aos 35 anos, passa por um período de crise comercial, com prestígio em queda e poucos sucessos radiofônicos. O disco mais recente, Before I self destruct (2009), vendeu 436 mil cópias nos Estados Unidos. Já a estreia, Get rich or die tryin%u2019 (2003), emplacou 15 milhões de unidades em todo o mundo.

Sem medo
A temporada de recessão, porém, não abala o formato do livro de Greene, que cria uma equação para os leitores que tentam se tornar tão resistentes quanto o ídolo. Regra número 1: não terás medo. “A fonte de seu poder é que ele não teme absolutamente nada, Ele é um exímio jogador, uma espécie de Napoleão Bonaparte do hip-hop”, observa o escritor. Cada um dos capítulos detalha os mandamentos da “50ª lei”: “transforme limões em limonada”, “saiba quando ser mau”, “comande da linha de frente”, “supere seus limites”. Para o leitor que não se impressiona com esse tipo de orientação filosófica, a força do livro está na construção de um personagem sagaz, que aprendeu com os traficantes a driblar as tretas da indústria musical.

É esse Curtis que, quando desprezado pela Columbia Records, gravou um CD caseiro que, distribuído nas ruas de Nova York, parou nas mãos de Eminem e Dr. Dre. O rapper branquelo – e também atento às ondas do mercado – se associou imediatamente a 50 Cent. A parceria deu tão certo que, hoje, a marca de 50 Cent está associada a CDs (foram mais de 30 milhões de discos vendidos), videogames e grifes de roupas. “A personalidade de Curtis não se manifesta por meio de gritos nem táticas óbvias de intimidação. Sempre ele se comporta assim em público, pode ter certeza: é tudo teatro. Nos bastidores, ele é um sujeito frio. Sua falta de medo reflete-se em sua postura e em suas ações”, explica o livro. Em vez de humanizar a figura do rapper, Greene toma o caminho oposto: acentua o mistério que existe em torno de um herói marrento e, aparentemente, de corpo fechado.

A 50ª LEI
De 50 Cent e Robert Greene. Tradução de Antônio E. de Moura Filho. Editora Rocco.
272 páginas. R$ 38.

Trecho
“O maior medo que existe é o de sermos quem somos de fato. As pessoas querem ser 50 Cent ou qualquer outro. Fazem o que todos fazem ainda que seja inadequado a suas identidades e origens. Só que não se chega a lugar algum assim: a pessoa fica sem energia e não consegue atrair a atenção de ninguém. Depois que senti o poder que eu tinha ao mostrar que eu não queria ser como os outros, nunca mais olhei para trás”

Depoimento de 50 Cent no livro A 50ª lei

 

 

 

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