Alagoas é uma velha senhora da elite orientada para o poder.

Por: Arísia Barros

 

Eram corpos, massas segregadas, sitiados no meio da guerra da inoperância estatal.

Corpos expostos às moscas varejeira do menosprezo social.

Cadáveres.

Quase todos, não brancos.

Quase todos analfabetos.

Quase todos capturados pela “verdade social” de que dependentes químicos são inimigos sociais, portanto não merecem o reino dos céus. Só o extermínio. Extermínio consentido, como mediação do poder para libertar a sociedade do “mal” maior.

É a guerra semântica do bem contra o mal, na busca de uma paz sustentável que sufoque os conflitos sociais e o eco da miserável população das ruas.

O mal tem cor e classe social: É pobre e negro.

Eram corpos subjugados, como uma explicita representação sociológica da historiografia contemporânea, alimentando o discurso do poder de eliminar a pobreza, que na sua essência é negra e pobre.

Eram quase todos negros, os corpos brutalizados nos vulneráveis subterrâneos dos passeios públicos. Tinham a rua como endereço fixo, reafirmando a cultura somática da exclusão étnica.

Exclusão negra na terra de Zumbi!

Homens e mulheres confinados no oco do nada. Mortes programadas como uma diáspora infinita e definida.

Alagoas é ainda uma terra de poucos para poucos, como uma velha senhora da elite imperial bem educada e orientada para o poder.

E o poder em Alagoas orienta e expõe a solução para os corpos calcinados pela exclusão sistêmica: “Queriam desestabilizar o governo nas eleições”.

Os corpos mudos no silêncio de cemitério, não descansam em paz!

 

Fonte: Cada Minuto

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