Expectativa com Obama

Por: Frei David Santos

O presidente Barack Obama, definindo o perfil de sua viagem ao Brasil, optou por dar “um toque família” passando uma mensagem otimista para as famílias de toda a América Latina. As famílias em geral e a negra, em especial, tão quebradas e desmontadas, pela cooptação do tráfico, pela violência policial e pela falta de políticas públicas, necessitam muito do resgate deste símbolo. O símbolo “família” é muito forte, antropológica e socialmente, e precisa ser resgatado. A comunidade negra do Brasil tem muitas expectativas com a vinda da família Obama. Vejamos algumas:

Michele Obama foi beneficiada por programas de políticas de ações afirmativas nos EUA. Isso permitiu que entrasse numa das mais qualificadas universidades norte-americanas, a Princeton. Sua tese de conclusão de curso foi sobre a “Educação de Princeton e a Comunidade Negra”. A sociedade brasileira está às voltas com os processos contra as escolas que não estão colocando em prática a lei assinada por Lula como presidente, que trata do estudo das populações negras nas escolas. Este fator vai ajudar a avançar nesta compreensão? Há menos de dois anos Brasil e EUA assinaram um tratado com o governo norte-americano, para implementação de programas e apoio mútuo que visam a combater as discriminações contra os negros. Como, na prática, esta visita estará fortalecendo estes acordos? Todos sabem que o Partido Democratas (DEM) mantém vários processos judiciais contra interesses da população negra, tais como as cotas, terras de quilombos etc. Será que os discursos e posturas do presidente Obama levarão o DEM a rever suas práticas, de como tem tratado a população negra brasileira? Obama, dos 24 aos 40 anos, ajudou a dirigir ou fundou quase 10 entidades sociais de conquista por direitos dos negros e dos pobres.

A comunidade negra, por se sentir marginalizada, não se interessava em se inscrever, participar e votar. Para mudar esta realidade, Obama criou o “Project Vote” em Illinois e, de abril a outubro de 1992, conseguiu que 150 mil afro-americanos se registrassem e passassem a votar nas eleições. Nenhum outro líder havia alcançado tal êxito! A militância afro-brasileira irá se sentir motivada e vai ampliar sua dedicação em organizações sociais que visam a acelerar a inclusão? Articulações irão permitir que cotistas negros com notas acadêmicas excelentes fiquem na passagem de Obama para o palco da Cinelândia. Se o cerimonial da Casa Branca permitir que Obama aperte as mãos dos cotistas negros, que simbolismo este gesto invocará? Como a sociedade brasileira verá este gesto? Perceberá que as cotas para negros nas universidades estão gestando as futuras “Micheles” e os futuros “Baracks”? Será que a sociedade percebe que ela ganha com este processo de inclusão?

O site da Embaixada dos EUA está lembrando que a luta das mulheres por direitos iguais faz 100 anos. Irá Obama, a partir do fato da primeira mulher brasileira chegar à presidência, elogiar o povo brasileiro por seu avanço de consciência e cidadania, elegendo um operário, em seguida elegendo uma mulher? Caberá a nós, povo afro-brasileiro, fazermos um balanço e chorarmos as oportunidades perdidas ou vibrarmos, com as aberturas de consciências e de expectativas pelos gestos da família Obama por dias melhores e oportunidades igualitárias no Brasil e no mundo.

 

Fonte: O Globo

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