Na contramão das ruas, jovens apostam em partidos para mudar País e sonham alto

 

Por Natália Peixoto,

Sobre as manifestações, líderes da juventude das maiores siglas do País dizem que decepção é com as instituições, e que ela pode ser revertida a favor da política tradicional.

Apesar da rejeição dos jovens às bandeiras dos partidos durante as manifestações, uma parcela fiel da juventude ainda aposta na forma tradicional de fazer política para mudar o País, defendendo as siglas, assumindo compromissos com a militância e garantindo a continuidade programática das agremiações. Além de serem responsáveis pela formação ideológica, as juventudes partidárias são a porta de entrada para quem quer entrar na política e, quem sabe, se candidatar nas eleições.

A estratégia é aprovada pelo secretário da juventude nacional do Democratas, Hugo Neto, que entende que o jovem político precisa colocar suas ideias em prática e fazer uma “escada para ganhar experiência”. “Eu acho que todo jovem que ingressa na política, ele tem que ter como objetivo principal ser presidente da República. Não há outro”, diz Neto.

Duque de Caxias, afirma que seu “sonho principal” é ser senador. “É um cargo que você pode participar mais da política, e que não exige que você faça muitas concessões”, explica. Neto tem 33 anos, idade teto para fazer parte da juventude do partido. Ele se orgulha do seu papel na estruturação da legenda, que perdeu parte significativa de seus quadros com a criação do PSD, de Gilberto Kassab, em 2011, e diz que a fama de conservador da sigla não atrapalha a adesão dos mais jovens. “Não somos conservadores, somos liberais. Mas queremos sim, conservar o que é bom”, pontua.

Em 2012, ano de eleições municipais, 21% dos candidatos eram da fatia jovem dos partidos, com idades entre 18 e 34 anos. O número, maior do que em 2010 (12%), indica uma preferência dos candidatos estreantes por concorrer primeiro a cargos mais próximos à cidade e à administração pública, e assim ganhar musculatura para entrar na carreira política institucional.

O baiano Bruno da Mata, secretário da juventude do PSB, diz ter acompanhado in loco a rejeição partidária que tomou conta das ruas nas manifestações. Ele disse ter ficado preocupado com a força e dimensão nas ruas, mas que também encarou com naturalidade. “Os partidos políticos, para essa parcela grande da juventude, representava o motivo do afastamento dela, e para quem não acompanha é difícil entender como um partido é diferente do outro, porque as opções de um partido são melhores que as de outro, e são os partidos que inclusive ajudaram a organizar o processo de organização dos movimentos”, defende. Ele acredita que a rejeição, na verdade, é à maneira como se faz política no País, cuja maior representação são os partidos políticos. “Eu não acredito que as pessoas estavam lutando contra a democracia, eu acho que essas pessoas queriam mais democracia.”

Cientista social, Mata tem 30 anos e diz não se lembrar ao certo quando se filiou ao PSB, “se com 19 ou 20 anos”. Quadro fiel do partido de Eduardo Campos, diz não pensar em candidatura própria no curto prazo, já que o foco agora é a candidatura à Presidência, que ganhou maior projeção com a dobradinha com a ex-senadora Marina Silva. “É preciso se despir de vaidades. O projeto vai ser tocado independentemente de quem estiver lá.” Mata acredita que o momento político do País reflete um sentimento de insatisfação política que, apesar da aversão inicial às siglas, pode se reverter no engrossamento dos partidos. “A primeira coisa que atrai o jovem para participar é a indignação, o segundo impulso já é pensar em como mudar a sociedade, e para isso você tenta encontrar pessoas que têm pensamentos parecidos com você”, explica.

No dia 20 de junho , o PT paulistano foi alvo de agressões físicas e verbais de manifestantes que tomaram as ruas de São Paulo, que o acusavam de oportunismo. Secretário da juventude municipal do partido, Erik Bouzan, de 25 anos, diz entender que não é um problema direcionado às siglas, mas à política tradicional. “É uma crise institucional, um questionamento sobre o modelo. E não são só às instituições formais, mas também dos movimentos sociais.” Para Bouzan, as manifestações trouxeram reflexão e causaram um “chacoalhão” nos núcleos partidários. “Isso não é ruim para os partidos que se pretendem a ter um projeto de transformação social, elas refletem muito esse novo patamar de reinvindicações, que não são novas, mas são diferentes e mais complexas do que salário e emprego.”

Regras simples e financiamento público incentivam criação de partidos 

Para Neto, a via partidária é o único caminho para fazer política no regime democrático. “Ainda não inventaram uma outra alternativa, até porque não temos ainda como ter uma democracia direta. Se inventarem uma outra forma de fazer política, que não seja pela democracia direta, eu estou apto a conhecer e a verificar a sua eficiência”, diz.

Recém-eleito presidente da juventude tucana, Olyntho Neto tem 27 anos e é do Tocantins, sucedendo Marcelo Richa, filho do governador do Paraná Beto Richa (PSDB). Ao tomar posse, Olyntho ressaltou a importância de “ouvir as vozes das ruas” e colocou o PSDB em um papel de “reação”. “Queremos dar espaço para esses jovens e atraí-los para a Juventude Nacional do PSDB”, disse em nota no site tucano.

Jovens

Os partidos brasileiros têm autonomia sobre a organização dos seus quadros jovens. O PT e o PSB consideram parte da sua juventude todos os menores de 30 anos filiados. Para o DEM, são jovens os filiados com idade entre 16 e 33 anos. O PMDB, maior partido do País, considera jovem seus membros com até 35 anos. Ela é comandada por Marco Antônio Cabral, de 21 anos, filho do governador do Rio, Sérgio Cabral, um dos maiores alvos dos protestos em 2013. A ala jovem do partido do vice-presidente da República Michel Temer (PMDB-SP), não tem nenhum paulista entre os seus 159 membros do diretório nacional. Procurado, Marco Antônio afirmou que não podia dar entrevista por estar em semana de provas na faculdade de Direito.

 

Fonte: Último Segundo

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