Armanda, educadora e feminista da Baixada, é tema de documentário

A professora Liliane Leroux (UERJ) e sua equipe lançam em abril um documentário sobre Armanda Alvaro Alberto, educadora e militante feminista da Baixada. O apelido da escola fundada por Armanda dá nome a um dos mais conhecidos grupos culturais da área: o Cineclube Mate com Angu. Para Heraldo HB, um dos fundadores do Mate, Armanda é um grande modelo: “Ela era uma visionária que escrevia em defesa da educação, da emancipação das mulheres, da igualdade racial e contra o autoritarismo dos governantes”

A educadora e militante feminista da Baixada Fluminense, Armanda Alvaro Alberto, que viveu de 1892 a 1974, será tema de um documentário. A iniciativa é da professora Liliane Leroux, que coordena o Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas (NuVISU) da UERJ. No site da Secretaria de Cultura, a professora conta como foi resgatar a memória, indo atrás de “pessoas fundamentais para que as relações entre Armanda e Caxias – a história dessa mulher e da cidade – se fizessem entrever”. Ela revela que a equipe dedicou cerca de quatro meses à pesquisa iconográfica e documental sobre Armanda Alvaro.

Inspiração para movimentos culturais da Baixada, a educadora fundou uma escola cujo apelido batiza um dos mais conhecidos grupos culturais da região: o Cineclube Mate com Angu. O coletivo de cultura antissexista “Roque Pense”, que organiza festivais de música, também dedicou uma de suas edições à militância feminista da educadora.

Por Renata Saavedra, para Imprensa RJ

Mate, angu e revolução

Além dos inúmeros artistas e pensadores que povoam a Baixada hoje em dia, a região tem uma história cheia de personagens que valem um filme. Uma delas é Armanda Alvaro Alberto, educadora e militante feminista que viveu de 1892 a 1974, atuou na região e ainda inspira jovens que põem a mão na massa e movimentam a intensa cena cultural local.

Interessada na história e no legado de Armanda, a professora Liliane Leroux decidiu fazer um documentário sobre a educadora. “A ideia surgiu da vontade de conhecer melhor essa personagem e tentar entender a razão pela qual ela é, ainda hoje, uma figura tão presente em alguns grupos culturais da Baixada Fluminense”, explica Liliane, coordenadora do Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas (NuVISU), da UERJ, que está produzindo o filme. O NuVISU desenvolve pesquisas e produções que usem imagens como objeto de estudo, recurso de pesquisa e meio de divulgação científica e artística, em investigações relacionadas às periferias urbanas.

“Muitos já têm conhecimento de que Armanda Alvaro Alberto foi uma pioneira em diversas áreas. Além de educadora era feminista, pensadora e uma mulher de ação. Uma mulher que reunia pessoas influentes na construção de seu projeto de educação e de país. Foi presa como militante comunista, dividiu a famosa “cela 4″ com Olga Benário e Nise da Silveira, entre outras. Porém, além disso, o que mais nos interessou foi buscar a relação dela com a cidade de Caxias (antiga Meriti) e vice-versa”, diz Liliane, que dirige o filme ao lado de Flávio Machado e Rodrigo Dutra.

A atualidade das ideias de Armanda se reflete na admiração que grupos de jovens nutrem pela personagem.

“O documentário avança até os dias de hoje, nos quais o velho apelido pejorativo da escola fundada por Armanda, Mate com Angu, batiza um dos mais conhecidos grupos culturais da Baixada Fluminense, que reúne cinéfilos, cineastas, todo tipo de artistas e produtores culturais da região”, diz Liliane. “Além do Mate Com Angu, podemos citar o Roque Pense, que é um festival anual de música e performance, cuja última edição trouxe como tema a atuação de Armanda, sobretudo como feminista”.

A “Mate com Angu” original, que inspirou o cineclube caxiense, foi a Escola Regional de Meriti, fundada por Armanda em 1921. A escola ficou conhecida como Mate com Angu por ter sido uma das primeiras escolas da América Latina a servir merenda – como era comum que os comerciantes locais doassem fubá e erva-mate, muitas vezes havia essa combinação na refeição das crianças. Como diretora, Armanda buscou transformar o espaço em laboratório educacional: os alunos ficavam na escola em horário integral e ajudavam no cultivo de hortas e criação de animais como o bicho-da-seda. Defensora do ensino laico, Armanda criou a primeira biblioteca de Duque de Caxias.

Para Heraldo HB, um dos criadores do cineclube que homenageia a educadora, Armanda é um grande modelo: “Ela era uma visionária que escrevia em defesa da educação, da emancipação das mulheres, da igualdade racial, contra o autoritarismo dos governantes, etc. A escola era a sua paixão e foi um exemplo revolucionário que foi praticamente apagado da memória nacional. A escola foi a primeira do país a ter horário integral, orientação progressista, a ter uma biblioteca, um museu natural e um receptor de rádio, entre outros avanços”. Heraldo quer que o cineclube ajude a levar essa história para as novas gerações: “Agora a Armanda está começando a ser reconhecida, tem sido homenageada em vários lugares, e é legal saber que ajudamos a tornar essa história conhecida”.

Para resgatar essa memória, Liliane e sua equipe foram atrás de “pessoas fundamentais para que as relações entre Armanda e Caxias – a história dessa mulher e da cidade – se fizessem entrever”, conta a pesquisadora.

“Alguns deles são Heraldo HB, Marlúcia Santos, Vilma Amâncio, entre outros. Cabe uma menção especialíssima para a artista plástica Raquel Trindade, filha do poeta Solano Trindade, que foi ex-aluna da escola e autora da bela carta de despedida que ela mesma leu na solenidade em que Armanda, já sozinha e cansada, entrega a escola Mate com Angu aos cuidados do governo. Tivemos a alegria de trazer Raquel Trindade de volta a Caxias, depois de décadas morando em São Paulo. Foi um reencontro maravilhoso”.

O documentário será lançado em abril, mas vem sendo produzido desde 2012. “Começamos por um longo trabalho de pesquisa e também de aprendizado para os alunos da UERJ e outras pessoas interessadas, sobretudo moradores da Baixada, que se juntaram ao grupo. Foram mais de 4 meses de formação dos alunos em pesquisa iconográfica e documental. Ficamos meses debruçados sobre todo o acervo deixado por Armanda, estudando, discutindo e digitalizando. No momento, estamos finalizando a captação de imagens e entrando na fase de montagem”, conta a coordenadora.

 

 

 

 

Fonte: Brasil 247

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